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Entrevista: um papo com Criolo

O rapper, compositor e ator, Kleber Cavalcante Gomes, fez uma apresentação memorável no Tropicadelia Festival e falou com o Rap Dab

Quando começou escrever as primeiras letras aos 11 anos de idade, as inspirações Racionais MC’S, Facção Central e RZO ainda podia parecer distantes, mas o paulista que fez todo o brasileiro fã de rap conhecer o Grajau através da poesia, chegou tão, mas tão longe que até a sua voz no palco sente falta de mais espaço para ecoar.

Foi por volta das dez e meia da noite que Criolo subiu no palco com a sua banda. Ele cantou, dançou, falou, se emocionou e inclusive  mesclou o sua música ao som que vinha distante do palco eletrônico que estava bombando em outro ambiente, “gente é tudo igual, tudo tem a mesma raiz, é tudo tambor africano”, disse o cantor durante o show ouvindo tuts tuts do palco eletrônico.

Foi lá em 2006, no lançamento do seu primeiro álbum de estúdio, “Ainda Há Tempo”, que os caminhos para os palcos passaram a se abrir para o conhecimento popular, inclusive o eterno “popular” ainda é o melhor lugar para a arte estar.

O antigo nome artístico Criolo Doido, há uns tempos se tornou apenas Criolo, mas de doido, Kleber não tem nada, suas entrevistas na rádio, TV ou qualquer outras mídias sempre mostram um olhar sensível  e posicionamento de ideias de quem se interessa por gente e principalmente em evoluir.

Após diversos lançamentos, Ainda Há Tempo (2006), Nó na Orelha (2011), Convoque seu Buda (2014), Viva Tim Maia! (2015), Espiral de Ilusão (2017) e Sobre Viver ( 2022) e prêmios vencidos, o seu nome sempre entra em destaque por sua personalidade, inclusive recentemente na 22ª edição do Grammy Latino, onde o look do artista chamou atenção.

Fala, Criolo!

Em entrevista ao Portal Rap Dab, Criolo respondeu algumas curiosidades sobre a sua carreira e visões de mundo.

Você é um artista que nasceu e foi notado através do rap, mas, hoje, acredito que seja reconhecido como um artista plural. Esse já era um objetivo do Criolo lá atrás? Aquele que procurava amor em SP?

Criolo: De “lá atrás”, já se passaram 33 anos e eu não tinha ideia de como se daria a vida e o rap. Ainda é algo a se conhecer, mesmo forte e fundamental ferramenta de transformação social, ainda é uma arte jovem entre nós. Não tínhamos ideia do que aconteceria, não tínhamos nem o que comer. Desabafar e sonhar com melhores dias já era o máximo de uma vida sem horizonte de perspectivas.

Samba, MPB, POP entre outros gêneros que perpassam as suas produções criam sons bem originais nos seus últimos discos. Ainda há um gênero que deseja explorar?

Criolo: Moda de viola e Enka 

Enka é um estilo de música japonesa que mistura os sons tradicionais japoneses com melodias ocidentais, esse gênero musical foi criado entre a Era Meiji e Era Taisho, como uma forma de protesto.

O termo enka se formou originalmente na era Meiji, e começou como uma forma de expressão de desacordo político — discursos em forma de música para fazê-los mais atraentes —, porém sua forma mudou rapidamente. 

Os instrumentos usados são os ocidentais com tradicionais japoneses, como violão e instrumentos orquestrais, também o shamisen, koto e tambores de taiko. 

Você sempre expôs a sua opinião política e comentou sobre pautas sociais. Acredita que a cultura, sendo arte musical, teatro, tv, entre outras…podem ser a forma mais “fácil” de penetrar diversas camadas sociais com assuntos importantes para o progresso do país?

Criolo: Não sei se mais “fácil”, mas a música é uma potência natural de comunhão e comunicação das emoções, fortalece os encontros e, deles, a transformação se pavimenta. 

O que gosta de fazer em tempos livres? O que é lazer para você?

Criolo: Algo raro, bem raro na história da família, então infelizmente a cultura do lazer não é algo tão presente. A mente nunca descansa, mesmo que isso seja insalubre, se torna luta diária. 

Alguns eventos culturais, festivais de grande porte, estão se distanciando da pluralidade de público por conta dos valores. Você enxerga/pratica alguma ação para que pessoas de camadas sociais mais baixas possam continuar presenciando seus shows?

Criolo: Canto há 33 anos e, só de 8 anos pra cá, comecei a ser convidado para grandes festivais, aqui e fora. Nos outros 25 anos, a gente lutou muito para ser visto, ter o trabalho reconhecido e ser convidado para estar nos grandes festivais. Acredito que é desigual e cruel, se não existir fomento à cultura da sua cidade, essa situação vai se agravar cada vez mais. Uma cidade como São Paulo, ou onde quer que seja no Brasil, precisa respirar o novo e dar espaço ao que a juventude tem criado em arte e educação, apreciando sua cultura local. Sem isso, vamos cada vez mais nos afastar do que mais importa.

Maria Alice Oliveira, Dayo Cordeiro / Laje Prod.

Imagens: Maria Alice Oliveira, Dayo Cordeiro / Laje Prod.

Para o próximo ano o Tropicadelia Festival promete mais nomes do rap em seu palco principal, acompanhe todas as informações através das redes sociais.

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Ana Carla Dias

Jornalismo e Direção de Arte

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