Cultura de Rua

Afinal, o Rap Nacional ‘embranqueceu’ ou não? -precisamos refletir sobre

Dalua, Zudizilla, Hélio Crunk e Black criticam posicionamento de artistas e desabafam sobre a desinformação no rap nacional.

Rappers desabafam sobre a atual situação da cena brasileira

Não é de hoje que o cenário do Rap Nacional está passando por mudanças, o inserimento de novos sub-gêneros fez a amplitude do mercado do RAP, aumentar de forma gigantesca e com isso, surgindo dezenas de novos artistas, personalidades e influenciadores, mas nem todos podem ser considerados rappers e muitos menos amantes da cultura Hip Hop. (isso é um fato)

O hip hop que surgiu primeiramente na Jamaica, mas ganhou força nos anos 60,70 nos Estados Unidos, teve sua mais forte aparição no Brasil apenas nos anos 80. E foi criado a partir de um cenário visivelmente caótico nas comunidades periféricas, com inúmeras pessoas pobres; em empregos mal remunerados, com baixa ou nenhuma escolaridade. Em tempos em que pretos tinham horários para estar nas ruas, época em que a polícia matava e prendia brutalmente toda a população negra e periférica da América.

Assim nascendo o Hip Hop, como um grito de liberdade, narrado através da vivência de quem estava sofrendo a opressão do dia a dia, carregado por revoltas criadas a partir de descriminações sociais provocadas durante séculos.

Com seus mestres de cerimônia, fazendo o papel de voz das comunidades, com o efeito de amplificar a força da comunidade, passar informações, desabafar e levar empoderamento para o povo preto e periférico.

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Quando estamos inseridos dentro algo profundo, assim como ao movimento do Hip Hop, precisamos entender que é uma cultura preta, criada por gente preta, a partir de uma opressão causada por séculos da supremacia branca. Revolucionários negros foram assassinados, apenas por lutarem por igualdade, assim como Malcolm X e Martin Luther King.

O RAP não é relacionado apenas com a arte e fazer sucesso em si, foi criado com propósitos e causas maiores do que apenas a musicalidade.

Necessitamos de sabedoria e estudo, para não nos precipitarmos e acabarmos falando apenas sobre um nicho específico, o rap não é somente mercado musical. Os mc’s necessitam de entendimento e amor nas linhas, assim como retratou ‘Nego Max’ na entrevista para o nosso portal: “Não tem amor pelo que fazem, não amam a cultura Hip Hop, igual nós amamos”.

A desinformação dentro do rap nacional, afeta toda a cultura?

Analisando que parte das mídias de rap nacional, não abordam sobre a cultura diariamente e nem enaltecem mestres de cerimônias, que são de extrema importância para o movimento, Zudizilla comentou no twitter : “Vocês dão moral pros cara ruim pra caralho e aí quando os cara ruim pra caralho se acha os pioneiro foda, inovador, dono das pica, cês acha estranho.”

E certamente é algo que cansa, ainda mais quando abrimos a internet e vemos artistas que caçam hype a troco de qualquer coisa e mídias que caçam seguidores a troco de qualquer matéria; abraçando somente o que da audiência, enaltecendo besteiras que não agregam em nada e esquecendo dos conceitos, pilares e propósitos da cultura.

Mestres de cerimônia que estudam e enaltecem à cultura, revelam a sua revolta com o público que abraça as ideias tortas e consequentemente com quem compartilha, vendo que o intuito do RAP não está sendo honrado em sua proposta. – “Não existe uma guerra de informações, mas sim guerra para ganhar visibilidade a qualquer custo.

Muitos dos novos mc’s ou donos de mídias do RAP, não se interessam pela cultura ou sequer conseguem diferenciar o gênero ‘RAP’, da cultura Hip Hop por completa. Confundem o TRAP com outro gênero e fazem ligações estatísticas, sem sentido algum. (algo que podemos ver nos textos e postagens) – respondendo a pergunta lá acima, “sim”, a desenformação afeta toda a cultura.

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Black, Sant, Djonga já falaram sobre isto no rap nacional

O rapper Black que não desperdiça ideias e nem versos, comentou parte de seu desabafo no twitter, relatando também: “inclusive tão botando vários outros na cena, aguardo próximos episódios”. Mostrando o seu sarcasmo ao assistir o cenário RAP caminhando para um lado esquisito, ou na visão de muitos, apenas diferente. Mas que obviamente, não estamos tratando de opinião pessoal, mas sim de fatos que englobam toda a cultura.

Podemos puxar referências de 4 anos atrás, quando Sant comentava no primeiro episódio do Poetas no Topo: “Pra quê fazer mais clássicos? / Merda paga cachê”. Vendo que tempos após, anunciou sua precoce aposentadoria, e isso certamente veio por consequência da desvalorização e ignorância por parte das pessoas envolvidas no mercado do RAP, “o sentimento de cantar não era mais o mesmo“. (Sant já voltou a compor)

Djonga também indagou sobre o assunto em seus versos, “Rap, te confundiram com um banheiro, fizeram umas merda, não preocupa, não, que o pai veio limpar”. Revelando na época que assim como ele, muitos rappers estavam surgindo para limpar a ‘cara branca’ do cenário nacional, essa ‘nova cara’ que fez o valor da cultura no país, infelizmente ser deixada de lado em sua grande maioria. Ainda existe fãs de rap nacional que dizem “para nós o RAP não tem que falar sobre política, porque não tem nada a ver”. (isso é claramente, desinformação)

Sidoka por sua vez, entende claramente a sua posição dentro do TRAP nacional e também o seu inserimento na cultura Hip Hop. “lembrando que isso não é indireta pra ninguém, estou apenas me posicionando conforme artista branco perante a situação atual. Amo todos vcs e nunca vou entrar em treta com ninguém, por mais que me xinguem me odeiem eu sempre vou esperar progresso pro seu lado. é nóis!”, indagou no Twitter.

“Pretos se orgulham ao ver um nerd de Dread” – comentou Hélio Crunk

Acontecimentos atuais fizeram alguns rappers se posicionarem sobre o assunto, Hélio Crunk, trapper do Dnasty desabafou: “Preto tem que compôr p crl, ter voz foda, estética braba, inovar td hr, ter posicionamentos 100% corretos o tempo todo, fazer malabares e muito mais, pra ganhar o msm q o artista branco ganha fazendo algo genérico e falando uma pa de merda… isso numa cultura negra“.

Finalizando com empoderamento nas palavras: “Pretos se orgulham ao ver um nerd de dread. Mais representatividade pra cultura do q qualquer branco de fuzil na mão. Precisamos de pretos de dread, black, trança, etc… com faculdade mesmo pra ver se pelo menos assim eles param de nos olhar como bandidos”.

Duzz mais um artista branco do TRAP, respeitosamente sabe o seu lugar de fala e também comentou: “E você, ouvinte branco de hip hop, entenda também a cultura que vc tá se inserindo, mesmo que exista artistas brancos na sua playlist, a cultura é criada e moldada sempre por mentes negras, ou você respeita ou você some do hip hop“.

Dalua também resolveu dar a sua visão

O trapper Dalua fez uma reflexão profunda, sobre a cultura Hip Hop e Rap Nacional estar sendo confundido e esquecido em seu real propósito e fundamento:

Porque vocês perdem tempo com esses perreco?! Se fosse do Rap mesmo saberia que na real visão do bagulho, Dread é coisa nossa. Diáspora preta, muito ideia pra cabeça pequena. Ancestralidade e representatividade, é sobre isso!

“Bob Marley, MURS, Busta Rhymes, Ice Blue, Lil Wayne, 2Chainz… Itamar Assumção, Luiz Melodia, Gilberto Gil, Marcelo Falcão, Toni Garrido… Tantos outros… Ícones da música preta. Enfim, ancestralidade e representatividade!”, finalizou Dalua em seu twitter .

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O Hip Hop é da cultura preta, o RAP (não só o Nacional) é formado e criado por personalidades e pessoas pretas, então é o básico sabermos a nossa posição diante as indagações, discussões e reflexões. Precisamos sempre estarmos cientes do nosso lugar de fala e aprendermos com os mais experientes, o principal conceito do RAP é o respeito, e ele é somente pra quem tem.

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Mateus Araújo

CEO do Portal Rap Dab, uma mídia focada na cultura Hip Hop e cultura de rua. Respeito é a base de tudo!

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