Veículos de rap nacional conquistam mais espaço em grandes festivais
O Rap Dab conversou com Felipe Mascari, Ruth Maciel, Vinícius Voutsinas e com Carol Pascoal para promover uma reflexão saudável a respeito de credenciamento de imprensa em eventos com atrações de rap no line up.
Não é de hoje que os veículos independentes de rap nacional – apesar de comunicarem direto com o público do estilo – acabam sendo deixados um tanto de lado quando o assunto é cobertura de festivais. Mesmo em eventos que são dedicados apenas ao gênero e suas vertentes. O Lollapalooza Brasil 2023 procurou mudar esse cenário.
Devido ao grande número de artistas de rap nacional e internacional no line up, o evento – através de sua assessoria de imprensa – aceitou o credenciamento de veículos independentes de rap nacional que, por muitas vezes, não conseguem ter suas solicitações atendidas. Este ano, HipHopDX, Flagra, RapMais, RAP, falando, Rap Na Rua e Rap Dab foram credenciados para cobrir o Lolla BR.
Com a palavra os jornalistas
Para Felipe Mascari, responsável pelo conteúdo do HipHopDX e considerado um dos maiores jornalistas do rap nacional, a iniciativa do Lollapalooza Brasil em credenciar os veículos independentes é de extrema importância. Bem como o tratamento durante os três dias de evento.
“Na parte de imprensa, meu atendimento foi impecável. A estrutura montada para a imprensa no festival é a melhor que tive acesso. Com uma alimentação do começo ao fim, organização para ida e volta do palco através de vans e um apoio por parte da equipe de imprensa, que foi solícita sempre que pedi informações e tudo mais”,
explica Mascari que ainda teve sua solicitação de entrevista com o Rashid atendida.
Por outro lado, o Rap Dab solicitou aspas de Brisa Flow e Black Alien ainda durante a quinta-feira. A assessoria do Lolla e o responsável pelo camarim, inicialmente, prontificarem-se em atender, porém o material entregue não condizia com o requerido. De forma, que o portal – que vos fala – não conseguiu prosseguir com a construção da matéria que já estava engatilhada, otimizada em SEO, pronta para receber as falas solicitadas, ser editada e para ir ao ar.
“O show da Brisa foi ao meio dia, eram sete da noite, quando conseguimos o retorno do pedido e ainda assim veio pela metade. Já do Black Alien, recebemos um vídeo com um ‘salve’, sendo que enviamos duas perguntas bem objetivas. Ficamos horas aguardando em frente ao notebook para receber um vídeo de salve? Infelimente, não tinha o que fazer com isso. Foi bem frustrante, mas compreendemos que acontece”,
comenta Carol Mattos, do Rap Dab.
Ruth Maciel, repórter e uma das idealizadoras do Flagra, conseguiu avançar em relação ao credencimento. Em 2022, o pedido foi negado. Já para este ano, três colaboradores do veículo independente de rap nacional tiveram suas solicitações atendidas tanto para sábado quanto para domingo, dias escolhidos por eles. Apesar do credenciamento e do bom atendimento, tiveram os pedidos de entrevistas negados.
“Foi bem ruim para o nosso desenvolvimento de trabalho e conteúdos de sustentação pós Lolla. Acredito que as assessorias poderiam dar mais prioridade por sermos veículos que conversam diretamente com o público de rap”,
reforça Ruth Maciel.
Em contrapartida, tanto o Rap Dab quanto Flagra, e os demais veículos independentes de rap nacional estavam em uma sala de imprensa, sendo tratados com o mesmo respeito que os demais profissionais, assim como destacou Mascari. Inclusive, a fotógrafa Giuliana Chorbajian, credenciada pelo Rap Dab, pode trabalhar do pit assim como os demais fotógrafos dos veículos tradicionais.
“No terceiro dia, houve uma diferença muito forte entre os veículos. Em alguns pits, só entravam veículos selecionados. Mas na sexta e no sábado, senti que a assessoria do Lolla prestou suporte para todos os serviços igualmente, e foi muito legal interagir com a imprensa, além da possibilidade de fazer fotos incríveis do pit. A sensação do pit é indescritível, principalmente, próximo a artistas que eu admiro”,
comemora Giu, que faz faculdade de jornalismo e pela primeira vez teve a oportunidade de cobrir um festival.
Para Carol Pascoal, diretora da Trovoa Comunicação, um festival como o Lollapalooza Brasil tem muitas possibilidades de cobertura: os shows, as ativações, pautas de comportamento, gastronomia. Sendo a parte de entrevistas apenas uma das possibilidades.
“É um número super limitado de veículos que acabam entrevistando os artistas presencialmente ali no dia. Geralmente, entrevistas pré-evento são mais fáceis de serem aceitas pelos artistas. Para entrevistas no evento, existe toda a logística do festival, é preciso entender se o artista vai ou não atender os veículos, quanto tempo vai dedicar à imprensa, etc. Geralmente, os media partners acabam tendo alguma preferência na hora da seleção, mas isso não é algo determinante. Mas não acho que seja uma questão de profissionalização dos veículos de rap. Acho que seja algo mais ligado a quantidade de veículos presentes e ao fato de existir muitas outras possibilidades de cobertura no local”,
pontua Carol Pascoal.
Parceria com marcas é alternativa para veículos independentes
Para driblar o atendimento de imprensa tradional – que ainda não é o mais efetivo quando o assunto é jornalismo independente – uma das opções são as parcerias com marcas. Através dos chamados #publiposts alguns veículos independentes de rap nacional conseguem ter acesso aos artistas e determinados espaços.
Nesta edição do LollaPalooza, o Rap Mais fechou com a Budweiser para cobrir as ações e o palco da label. Mesmo credenciado, o Rap Mais não teve seu acesso ao pit liberado pela assessoria de imprensa, o que poderia prejudicar a cobertura. Entretanto, pelo fato de já terem habilidade em cobrir festival e estarem aliados a patrocinadora oficial do Lolla, conseguiram produzir conteúdo com aquela desenvoltura já conhecida por quem acompanha a página.
“A marca [Budweiser] consegue nos ajudar a ter um acesso melhor em seu espaço e nas ações dentro do evento”,
pontua Vinícius Voutisinas, CEO do RapMais.
E os próximos festivais?
Os próximos meses chegam com uma série de festivais com atrações nacionais e gringas do rap. Será que os veículos independentes vão continuar tendo voz dentro desses espaços? Conforme Mascari, que tem pedido credenciamento para outros eventos, apesar da conquista dentro do Lolla, por exemplo, ainda há um percurso longo pela frente.
“Infelizmente, alguns [festivais] estão olhando mais para o número de seguidores, antes mesmo de seguir com o credenciamento. Há festivais com vários gêneros musicais, mas que estão colocando o rap dentro do line-up com destaque, porém esses mesmos estão limitando ou impossibilitando os veículos nichados de estarem presentes”,
pontua Mascari.
Vinícius Voutsinas lembra que no início do Rap Mais, as negativas eram constantes, além dos problemas por falta de organização. Agora, com a melhoria dos atendimentos, ele pensa que mais alguns passos podem ser dados para um atendimento ainda mais efetivo.
“Acredito que dar mais espaço para essas mídias e entender o que elas precisam para que realizar um bom trabalho, já que cada mídia tem suas necessidades específicas”,
pontua Voutsinas.
A dica de quem entende
Para Carol Pascoal ficar atento ao movimento dos eventos e de suas assessorias está entre as principais dicas para ter demandas atendidas. A diretora da Trovoa Comunicação, acostumada com o credeciamento de diversos festivais, ainda observou outros pontos importantes.
“Eu acho que uma das principais dicas é: estreite a relação com os eventos e os artistas de interesse ao longo do ano. Muitos veículos aparecem apenas na época de pedir credenciamento para os grandes eventos. E eles vão concorrer com veículos que têm uma relação mais sólida com o evento, com a agência, com os artistas, etc. O segundo passo é entender que, se você for credenciado, o festival vai ver o conteúdo que você produziu no evento. Já vi casos em que o veículo foi credenciado e não escreveu nenhuma linha sobre o evento, não postou um vídeo de cobertura. Aí, isso vira uma cortesia para ver show e isso não faz sentido para os eventos. Certamente, a credencial para este veículos não será aceita tão facilmente nas próximas edições. Acho que a outra dica importante é ter um controle de qualidade no conteúdo produzido. Por exemplo, a gente trabalha com muitos artistas e muitas vezes eles se “cansam” de dar entrevistas porque as perguntas são sempre as mesmas, falta ouvir o trabalho, falta uma atenção mais cuidadosa com as obras produzidas. Quando um jornalista entrevista um artista e esse artista curte a conversa (e percebe que houve uma escuta atenta), nos próximos lançamentos – dificilmente – esse mesmo jornalista não será convidado para um dia de imprensa com ele,
conclui Carol Pascoal.
Entre lados e lados dessa história, sempre existirá um caminho para o amadurecimento profissional de todos. Em suma, o Rap Dab espera que um debate saudável siga acontecendo daqui para frente. E que tanto os veículos independentes de rap quanto os de demais gêneros conquistem cada vez mais espaço, sobretudo por conta de sua qualidade editorial.
*para essa matéria o Rap Dab também entrou em contato com Rap Falando e Rap Na Rua, ambos credenciados para o Lolla. Rap Falando preferiu não participar. Já o Rap Na Rua, até o fechamento dessa matéria, não conseguiu retornar. De qualquer forma, agradecemos a atenção de ambos os veículos independentes de rap tão conhecidos e respeitados pelo público e por seus colegas.
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