Cultura de RuaDestaquesEntrevistasNotíciasSociedade

A madrugada tem que continuar: Entrevista com o Fundo de Quintal

O grupo Fundo de Quintal se apresentou no evento Samba da Madrugada, em Londrina, conversamos com o grupo que é a tradição do samba raiz

Na luz do luar, em Londrina – PR, o grupo Fundo de Quintal fez mais uma de suas passagens históricas pela cidade. Em um evento lotado,  – fique de olho nas fotos lindas da fasta- quem adora um samba no pé ouviu o tantã começar a tocar por volta das 2h horas da madrugada e foi samba noite afora.

O evento Samba da Madrugada, já tradicional na cidade, completou, neste mês de abril, 9 anos desde a primeira edição, e não tinha uma melhor atração para comemorar o sucesso do evento na cidade. Trazer quem revolucionou o samba no Brasil para o palco. 

Foto: Allan Puzzy

Fundo de Quintal 

Há 46 anos o grupo que além de revolucionar um gênero musical que é a raiz do Brasil, trouxe novos instrumentos e personalidades tradicionais para o carnaval do país, além do mais, continua fazendo história por onde a sua turnê passa.

Enchendo shows e arrastando um público de idades variadas, o Fundo de Quintal, hoje com Bira Presidente, Sereno, Ademir Batera, Júnior Itaguay e Márcio Alexandre traz uma enorme história em cada melodia apresentada nos palcos.

Diferentes gerações cantam durante as suas apresentações as composições que parecem se tornar mais apaixonantes e as histórias mais íntimas a cada ano que passa. 

Qual é o segredo do sucesso permanente do grupo Fundo de Quintal? Talvez seja A Amizade que eles cantam em um de seus sucessos. 

Fundo de Quintal: Composições

A letra de uma boa música não tem prazo de validade, isso é confirmado em qualquer roda de samba ou de pagode quando um cantor puxa em coro uma das composições do Fundo de Quintal. Além de  nascer junto com a Escola Cacique de Ramos, no Rio de Janeiro, criada por Bira Presidente e seu irmão Ubirany, o grupo tem um estilo íntimo de se comunicar com os fãs, a mesma linguagem de todos os anos e a forma de se apresentar em shows. Com os instrumentos no palco e a alegria em cantar, é sempre: luz, samba e ação!

Foto: Allan Puzzy

Em entrevista com os membros do Fundo de Quintal, o Portal Rap Dab questiona como é essa sensação ao longo de todos esses anos sem parar de fazer show, encontrando multidões diversas. 

É uma dádiva divina você atingir tantas faixas etárias, né? A música não cansa, ela não envelhece. Uma criança cantando, imagina como fica o coração do autor ali (aponta para o Sereno). Se tem uma criança cantando é porque tem um pai, um tio  que mostrou. Acaba sendo didático, acontece na minha casa e na sua, isso não tem preço’, diz Junior Itaguay que cuida do banjo e é uma das vozes do grupo.

Realmente o evento chamou a atenção com a diferença de idade em público, mas sem surpresas na hora de encontrar todas as músicas na ponta da língua de cada um presente.

Vídeo retirado do Instagram I Perfil da jornalista Ana Maria Alcantara

O Fundo de Quintal não está com os mesmos integrantes desde o seu início, por exemplo, Márcio Alexandre e Junior Itaguay contam que são mais novos do que os tempos de carreira do grupo.

“O que o grupo tem de idade, eu não tenho, no meu caso. O Junior também não, tinha dois anos quando nasceu o grupo, tenho 40 e o grupo fez 46 anos em janeiro deste ano. Isso que o Junior acabou de falar aconteceu comigo, a partir dos pais e amigos que foram colocando a gente nesse caminho para conhecer a obra do Fundo de Quintal, tive a oportunidade de trabalhar com os nossos heróis”, explica Márcio Alexandre, responsável pelo cavaco e também uma das vozes.

Foto: Allan Puzzy

Renovação e outros ritmos 

“Tudo tem uma renovação, não é? Hoje a rapaziada faz do jeito deles, cantam do jeito deles de vez em quando a gente pega um fio da meada deles, eles tem a mente fértil. Tudo tem a somar, não vou dizer que o samba de raiz está em outro patamar, isso não existe, todos correm juntos. O Fundo de Quintal está aí há 50 anos porque aceita todos de braços abertos”, completa Sereno, criador do tantã e também voz do grupo.

Sereno, um dos que está desde o início no grupo, conta sobre a influência do samba em demais estilos musicais.

“Tem o lado do sertanejo, tem o lado do funk, do samba, mas tudo tem uma pitada do samba. Esses sons de samba universitário que estão fazendo agora são todos do samba, eles sapateiam de um jeito dentro do samba, o samba é a fonte que todo mundo bebe”, diz Sereno.

A cidade de Londrina é mais conhecida por shows sertanejos, o gênero musical mais forte no Paraná, mas quando o público tem a oportunidade de curtir um show diferente, principalmente do Fundo de Quintal, a recepção é diferente.

“A gente é muito bem recebido, o calor da cidade do interior é mais forte”, Junior Itaguay.

Sereno conta que também compõe muitas letras de sertanejo, às vezes conversa com cantores que encontra em eventos e presenças em programas de TV, mas ele avisa que é difícil furar a bolha dos gêneros musicais.

“A percussão [do sertanejo] é outra, é muito mais corda, mas como eu digo tem uma pitada do samba, é só bater na caixa e paaaa [faz o gesto batendo mão na mesa]! Isso é o samba”, completa.

“Música boa a gente dá ouvidos”, Sereno

Fundo de Quintal: História

A história do grupo Fundo de Quintal é cheia de momentos simbólicos que revolucionaram a música, afinal são anos de carreira dedicados à composição e produção de samba! Não somente como profissão, mas também como paixão pela cultura e significado que isso tem para um povo.

Com a introdução de instrumentos criados pelos membros do grupo como o tantã, feito por Sereno para se livrar do peso que era carregar tradicional ‘surdo’ em todos os shows, o repique de mão, criado por Ubirany, também o banjo de 4 cordas que foi uma forma de afinação diferente do cavaquinho, inovado por Almir Guineto.

Os novos instrumentos vieram com um som que deixou o grupo com a levada ainda mais particular para a época, que até hoje faz viradas com o repique em suas composições que são inconfundíveis, também com o seu diferencial no samba partido-alto que, com a forma originada dos batuques angolanos, deixa ainda mais inconfundível a sonora do grupo.

Ter o Fundo de Quintal fazendo shows por todo o Brasil, é como se a história se contasse em cada apresentação através da música. Ela se repete entre um compasso e outro, também se renova entre vários batuques ao longo desses 46 anos.

“Agradeco demais a forma que nos receberam, Londrina é uma cidade calorosa que consegui conhecer um pouco. Inclusive, Londrina sabe fazer uma costela muito boa, coisa que o Rio de Janeiro não consegue hahahaha”, brinca Junior Itaguay.

Acompanhe as lendas através das redes sociais oficiais do grupo Fundo de Quintal e também não deixe de conferir a sua agenda de shows.

Compartilhar:

Ana Carla Dias

Jornalismo e Direção de Arte

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo