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Social Rhutis: Reggae robusto rústico e visceral desde 2009

Muita história nos palcos e na vida de cada integrante, a Social Rhutis leva o reggae na veia, uma banda que se considera "soteropaulista"

A banda Social Rhutis está há 15 anos na estrada construindo algo para além de música, uma forma particular de enxergar e apresentar ao mundo composições e produções autorais com ancestralidade, simbolismo e muita raiz do reggae. Com uma grande quantidade de integrantes vindos de Salvador, a banda se denomina “sotero paulistana”, já que a sua mistura de culturas e influências traz uma personalidade que somente a Social Rhutis possui.


São anos de experiências vivenciando o ritmo que carrega a forte bandeira verde, amarela e vermelha, uma cultura que diz muito sobre o estilo de vida e identidade do seu povo. O reggae nasce não somente para dançar ou cantar, mas também como símbolo de protesto e esperança que conquista e apaixona fãs do gênero musical em todos os cantos do mundo.

SOCIAL RHUTIS: BEBENDO DA FONTE DO REGGAE

Surgido em 1960 na Jamaica, após vinte anos o reggae já estava fortemente difundido no Brasil, parte da responsabilidade disso foi a sua conexão com as origens africanas do país. Se firmando principalmente em Maranhão (MA) e em Salvador (BA), territórios onde há a maior população preta, São Luís, por exemplo, é conhecida como a capital nacional do reggae, já em Salvador, duas figuras se tornaram centrais na difusão do reggae: Gilberto Gil e Edson Gomes.


Em 1963, Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Wailer fundaram a banda The Wailers, que seria o grupo de reggae mais conhecido mundialmente. O reggae finca suas raízes na cultura, principalmente por meio da história de musicalidade do povo jamaicano, criando uma comunidade fundada mais na identidade étnica do Brasil, também propõe resgatar e valorizar a africanidade ao movimento.


O som do reggae tem como instrumentos fundamentais: bateria e baixo, eles que dão a composição do reggae music, o gênero também teve uma influência latina e caribenha ao longo dos anos, o que trouxe outros instrumentos de percussão que dão outra riqueza rítmica ao som final com influências de ‘Rythm & Blues’ que estão presentes na construção dos acordes e nas linhas de transição, com teclados,
saxofone, trombone e o trompete.

Carla Capinam, 43, teve sua vida transformada ao entrar na banda, além da rotina, a música traz sentidos em outras questões sociais e culturais em sua observação: “Sempre gostei de samba, mas o reggae me chamou atenção por conta da convivência com meu marido que respira essa cultura, então fui me apaixonando. Temos uma movimentação bacana na cidade, mas ainda falta um incentivo maior da
máquina pública para o movimento reggae”. O estilo musical que ainda é visto como muito nichado, mas que na verdade possui fãs em todos os ambientes, mas que busca por mais visibilidade para a sua obra e ensinamentos: “A música é importante e traz momentos de paz e alegria, temos muitas novidades em relação ao nosso instrumental, trazemos um som encorpado, com dinâmicas e ritmos mais próximos
do reggae tocado na Jamaica na década de 80 e 90”, explica Carla.


Já para o saxofonista, a música uniu uma família por meio de um interesse antigo no som: “Já conhecia os integrantes da banda de longa data, o reggae sempre mexeu comigo com mais força, sou maranhense, então minha ligação é natural. Mudou a minha vida em relação ao olhar sobre as coisas, enxergo a vida diferente, sem individualismo e com mais empatia pelo outro. É uma música poderosa demais e extremamente necessária e que te eterniza momentos, aliviando dores, um presente divino”, conta Francisco Brito, 48, que enxerga como uma grande resistência social o trabalho de toda a equipe, além da importância para o cenário raiz do reggae.


Outros ritmos também acompanharam a carreira de membros do grupo, já que o reggae é um componente de mix cultural, traz consigo visões com influências diversas: “Cresci com MPB e Afrobeat, mas convivi com amigos mais velhos que são bem ligados à cultura Rastafari. Um dos meus sonhos de feat é o Julian Marley, conheço pessoalmente no camarim, mas ainda quero dividir o palco com o filho do
cara (Bob Marley). O reggae é uma luta dia a dia, você é o seu apoio, a Social Rhutis é resistência”, diz Igor Roggi Santiago, 36.

A banda está na edição 32 da revista Reggae Brasil

A FORMAÇÃO QUE CONSTRUIU UM LAÇO DE MÚSICA E SINTONIA

Francisco de Assis Santos Coutinho, 62, é um dos formadores da Social Rhutis, ele leva o reggae como uma filosofia de vida: “Eu e Marcos formamos a Social, já havia escutado muito MPB, forró, axé music, mas o reggae foi aquele que bateu. Vejo o ritmo ainda não muito aceito pelo mercado, mas crescendo, se afirmando cada dia e queremos oferecer algo diferenciado, irreverente e marcante”, informa o tecladista
que estava ao lado de Marcos Capinam, 45, que sempre teve a música em sua vida, mesmo que fosse como um passatempo, mas foi nascido e criado no reggae: “Começa como um hobby, contudo chega um momento de amadurecimento e evolução e o reggae tem seu lado sério sociopolítico”, ele ressalta. “Sou o fundador, baterista, produtor e compositor da Social, meus tios e meu pai eram ouvintes do estilo, toquei em Salvador numa banda de samba-reggae, toquei Pagodão em Salvador, mas não era minha verdade. O reggae nos coloca em lugares maravilhosos e somente quem conhece ou toca esse estilo sabe o sentimento, os grooves de baixo e bateria nos remete a nuances diferentes de qualquer outro
estilo”, diz Marcos.


Em São Paulo há o Fórum do Reggae, um dos braços que ajuda a fortalecer a cultura coletiva que busca políticas públicas no movimento Rastafari do município, uma referência de assistência hoje no Brasil, na opinião de do baterista: “O reggae está sempre presente, mas não querem admitir, faltam mais empresários e produtores para investir. É uma música séria, com verdade, que fala das mazelas do
povo, que passa uma visão de mundo melhor”.


Para Luis Claudio Machado Braga, 59, viveu uma infância regada por sertanejo raiz, até que a banda chegou em sua vida: “A música está em mim desde sempre, meus pais eram do interior, meus tios trouxeram a música orquestrada, ao mesmo tempo tinha vizinhos que ouviam rock e samba de primeira linha, com discoteca black music e o reggae”, exemplifica. “Foi quando fiz parte da banda da MaySistah
que conheci o Marcos Capinam, ele me convidou para tocar guitarra na Social Rhutis. Ele teve visão e eu tive sorte. A música do Bob Marley, ‘Could You Be Loved’, me levou para lugares mais distantes, me fez estudar o inglês, além do reggae salvar a minha vida da banalidade”, exalta Luis.

Não é sempre que um único som bate forte no coração de quem faz a música o seu ganha pão, para Tiago Mendes, 39, o rap também mexeu com a sua veia artística, são gêneros que conversam bem e, na maioria dos casos, brigam em uma mesma luta: “O reggae chegou cedo na minha vida, mas antes veio a paixão pelo rap. Em um momento as duas vertentes se cruzaram, hoje, os dois estilos permanecem vivos em mim. Gêneros que formam um canal onde os anseios das pessoas menos favorecidas são expressados e ouvidos, um papel importantíssimo e com potencial transformador”.


Chamando atenção em todos os shows com sua voz potente, Reginaldo Rodrigues da Paz, 47, também está desde o início da banda, um encontro de oportunidades e que deu certo: “Fui em um show em que o Marcos tocava e, naquele dia, o percussionista faltou, o tecladista na hora me tirou da plateia e me convidou parafazer a percussão. O reggae sempre esteve comigo, as preferências de início eram rock nacional, sertanejo, eletrônica, música clássica ou erudita. Confesso que antes achava o reggae um ritmo monótono, mas fui estudar e entendi que o reggae é muito democrático”, conta. “O reggae tem muito a dizer para as crianças, elas merecem o que há de melhor da cultura musical, serão nossos regueiros de
amanhã, futuros músicos independentes. Nosso grupo mostra que seu sonho é possível, com uma dose de atitude e fé, nós somos a prova viva”, completa o vocalista.

A banda Social Rhutis está com um novo lançamento para as próximas semanas, o EP “Em Busca da Paz”, uma obra com sete faixas, onde timbres e sonoridades são explorados, trazendo um reggae bem robusto e rústico. Junto ao lançamento, também estão previstos três clipes das músicas, “Dub Metaleiro”, “Emboscada” e “Vidas Pretas Importam”.

Redes sociais
Instagram:
@socialrhutisoriginal
Youtube: socialrhutistv
Contato para shows: (11) 980287291

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Ana Carla Dias

Jornalismo e Direção de Arte

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