Entrevista: O que vem da alma de Clara Lima

Entrevista: Clara Lima e o seu recente álbum “O Som Que Vem Da Alma”, mostrando a sua sensibilidade e caminhos no rap nacional

Assumir o lado artístico não é tarefa fácil, expressar o seu lado mais íntimo e dar notoriedade a ele de forma popular, seja em qualquer segmento da arte pode parecer glamoroso diante das telas, mas requer muita coragem para mostrar tamanha vulnerabilidade, mas Clara mostra que tem coragem de sobra.

Clara Lima, 22, era conhecida como Clarinha nas batalhas de rima, quando começou aos 14 anos, mas o apelido no diminutivo foi só uma forma carinhosa de chamar uma artista que tem um presente muito maior do que o seu nome pensou em poder carregar.

Mostrando seus pensamentos em forma de rima, foi vencendo batalhas junto das palavras até ser a primeira mulher a ir para o Duelo Nacional de MCS, lá venceu uma série de competições e ficou ainda mais conhecida no universo do rap e hip hop.

Clara nas rimas e batalhas

A batalha de rima é um movimento que só cresce no Brasil, por conta do seu um espaço aberto para vários gritos de resistência, também de denúncia sobre abusos sociais e violências que grande parte da população do país sofre diariamente. Com muito improviso e duelos com beatbox, os sons que saem desses encontros acabam ganhando muita notoriedade, principalmente em canais que tratam sobre o gênero artístico nas redes sociais, como o Slam Resistência.

Anos depois de passar por diversos duelos, Clara se viu participando como uma das juradas na batalha de rima da Red Bull FrancaMente e estar do outro lado não é tarefa fácil, são diversas vozes, donas de histórias e iniciando um caminho que era sonhado pela artista lá atrás. 

“Uma responsabilidade gigante, mas uma satisfação enorme em ter  voltado presencialmente nesse rolê das batalhas. Mesmo que de outra perspectiva, mas muito feliz mesmo, de estar sendo parte de uma parada que proporciona uma estrutura pros MCs que nunca tiveram isso, saca?”

A cantora (também atriz em várias oportunidades) Clara Lima, é um desses exemplos em se desmanchar através das suas músicas com melodias marcantes. Em seu novo disco “Som Que Vem Da Alma”, suas músicas falam de amor e também mostram momentos de indignação.

Foram lançadas cinco composições no álbum que foi lançado pelo selo Dip Muzic, no disco a artista faz uma mistura de gêneros com o rap e a música popular brasileira (mpb) contemporânea.

No canal do YouTube de Clara Lima, você encontra todos os seus projetos, as suas produções audiovisuais também expõem sobre o estilo que quer passar ao seu público. Em uma das suas composições atuais, na música “Som Que Vem Da Alma”, que carrega o nome do disco, Clara traz um pouco do que vive em um dos versos da canção, “Até que estou em uma versão mais calma”,  a artista parece sempre estar em um processo de descoberta, deve ser o que ajuda as letras apareceram no papel e sua história também ser escrita paralelamente a sua arte.

Hoje, já com mais de 81 mil ouvintes mensais no Spotify, já possui participações importantes na música, inclusive o sucesso “Poetas no Topo 3.1:Prólogo”.

A música a acompanha desde a infância, com tios músicos e pais apreciadores de som, tons e acordes sempre estiveram presentes no seu crescimento.

“Já é uma parada que vem de muito tempo e da base, saca? Eu comecei a usar a arte para me expressar a partir do momento que eu conheci o hip hop através das batalhas de rimas”.

O som que vem da Clara

“Acho que a minha maior referência é tudo que eu vivo de fato, seja coisas boas ou ruins. E as pessoas ao meu redor do meu convívio diário são influências também nesse momento!”

No início da carreira de diversos artistas do rap, as batalhas de rima tem muita importância pelo caminho. Aprender a pensar com rapidez, conhecer novos artistas e ver seus caminhos se concretizando, traz experiências novas e conhecimento de outros públicos. 

“Batalha de rima foi meu começo, né mano?. A partir dali que eu comecei a viver a parada de fato, então posso dizer que foi uma experiência que mudou a minha vida. E artisticamente falando me preparou para estar em qualquer palco, ter a sagacidade de contornar um imprevisto ou coisa do tipo”.

Clara já fez parte do  grupo DV Tribo com o Djonga, FBC e Hot e Oreia, artistas que posteriormente explodiram com diversos sucessos e com notoriedade nacional.

“Fico feliz demais, mano! Uma parada mais que merecida. A gente trabalhou e tem trabalhado muito tempo para que isso acontecesse, cada um na sua individualidade, mas sempre vibrando pelas vitórias de cada um!”.

O som que vem de BH

E se Belo Horizonte já foi conhecida por ser o berço de diversos ritmos e nomes que ganharam notoriedade nacional, o rap não perderia a oportunidade de também mostrar que bebe dessa água mineira. Já conhecida como cidade do metal, quando Sepultura deu as caras com o seu som, também Skank, Jota Quest e Pato Fu que levaram o pop para multidões em turnês, hoje, BH tem um o maior nome do rap da atualidade no Brasil, Djonga, o menino que queria ser Deus, só pode ter recebido a benção dessa Minas Gerais que vem despontando com tantos nomes fortes na cultura nos últimos cinco anos como Chris MC, Sidoka entre outros. 

Clara é outra estrela que sabe o valor que a sua terra tem, “Sempre, mano, sempre! BH é o aço! E que agora o Brasil e o mundo todo conhece e valoriza os artistas daqui, mas sempre foi muito potente tá ligado”.

Com 17 anos fez participação como atriz em um curta que estreou em Cannes, França, interpretando uma jovem chamada “Bia” que buscava o que cursar após o fim do ensino médio O convite surgiu através do diretor mineiro Gabriel Martins “O que aparece eu pulo de cabeça demais!”.

As metas de Clara

Mc LON e Young Ma. Os próximos passos para esse ano é continuar mantendo o ritmo de lançamentos, tanto em singles solo como também  em participações. Vem também uma colaboração com o Rizzi Get Busy!”

O rap é uma representatividade cultural de várias massas que usam da arte para trazer à tona muitas questões invisibilizadas socialmente. Logicamente, também não deixa de ser um gênero que carrega em si algumas falas que trazem comportamentos sociais  ainda pouco debatidos e atualizados. Ampliar o alcance e identificação com todas as pessoas ainda é urgente, já que o rap além de ajudar a evoluir, também precisa estar em constante evolução.

Um dos exemplos foi quando o rapper, cantor e compositor Criolo modificou um verso da sua  música “Vasilhame”, lançada em 2006. Ela trazia em um trecho das rimas uma expressão transfóbica que após um tempo de novos aprendizados entendeu que errou.

 “Quando você é jovem, pode magoar alguém sem saber. Não porque você é mau, mas porque ninguém falou para você que aquilo poderia ser ruim. Não foi só essa modificação que fiz nas letras. Revi tudo e mudei aquilo que não tinha necessidade de ficar. Não tenho problemas em dizer que errei”, disse o rapper, na época, em entrevista ao jornal “O Globo”.

Para Clara todo esse movimento de mudança é necessário, mais inclusão no rap e respeito às minorias, ela explica como vê o gênero musical no país.

“Em uma crescente absurda, mas que ainda assim precisa evoluir bastante em muitos aspectos como a valorização das mulheres, indígenas e LGBTQIA+”.

Para o processo intenso de criação do seu mais recente álbum, ela conta que houve muita dedicação, “Um bagulho que veio do meu íntimo mesmo, tá ligado, quis dividir com geral que me acompanha nessa jornada cabulosa. Pensei no conceito em como eu queria que fosse realizado, fiz parte de cada momento. Bagulho de alma mesmo”, e não é atoa que o som veio dela. Ouça o disco completo “O Som Que Vem da Alma” de Clara Lima, conheça seus outros trabalhos e  fique por dentro de todos os seus lançamentos através de suas redes sociais.

Compartilhar:
Sair da versão mobile