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Vinny e a santa fé de ser o que quiser na música

Entrevista com Vinny Santa Fé, compositor da música “Pauperrecido”, um sucesso no TikTok e hino do trabalhador brasileiro

Uma porção do petisco preferido, a cerveja gelada e a caixinha de som… esses são os ingredientes para criar uma sexta-feira poderosa na vida de qualquer brasileiro, e dentro desses itens há alguns meses mais um vem sendo adicionado, uma música carregada de mensagens que se encaixam aos ouvidos de quem adora um samba e está na correria diária, já que fala sobre o que a maioria das pessoas leva dentro do peito.

Até pouco tempo mal se escutava a palavra “Pauperrecido”, porém com a explosão do samba, nomeado por esse termo quase anônimo em nosso vocabulário, a palavra passou a ser altamente buscada nas plataformas de música. A composição lançada em 2021 por Vinicius Silva de Souza, 36,  mais conhecido como Vinny Santa Fé, faz poesia com o cotidiano e é uma das mais bombadas do momento, a propósito, a música já passou o número de 5 milhões de streams no Spotify até essa entrevista ir ao ar. 

“Você pode ser pobre de marré paupérrimo, pauperrecido, de dinheiro desprovido”… é assim que começa a letra que explodiu no TikTok acompanhando todos os tipos de vídeos imagináveis, Vinny, músico e carioca, já está na caminhada do samba há tempos, mas é daquele jeito “apareceu do nada” que a gente descobre esses artistas que vêm se criando pelo caminho e entre uma pandeiro e um cavaquinho nas rodas de samba, garantem o  seu espaço até finalmente cantar suas músicas na altura que merecem.

“Penso no TikTok como ferramenta para usar nos próximos trabalhos, essa plataforma fez muito diferença em nosso resultado final.”

Já com alguns sucessos como “Castelo De Um Quarto Só”, “Caixeiro Viajante” e “Sobrevivente”, viu seu nome ganhar força popular cantando que qualquer um pode ser o que quiser, em momentos difíceis como esses, já que toda a vida vem se arrastando pelos últimos anos pandêmicos, ouvir isso em uma letra de samba também é um afago na vida do trabalhador.

A MÚSICA: O SAMBA 

O samba se popularizou no Brasil, se consolidando  como um  gênero musical através da canção “Pelo Telefone”, lançada pela Odeon em 1917. Uma composição coletiva trouxe a música ao mundo, mais precisamente no quintal da casa da Tia Ciata, na Praça Onze.

As participações na composição carregaram nomes de peso da música popular, como João da Baiana, Pixinguinha, Caninha, Hilário Jovino Ferreira e Sinhô, mas foi  Donga que a registrou.

A letra original da canção:

“O chefe da folia/ Pelo telefone / Mandou me avisar / Que com alegria / Não se questione / Para se brincar”, foi alterada para a versão mais conhecida hoje em dia, “O Chefe da Polícia / Pelo telefone/ Manda me avisar/ Que na Carioca / Tem uma roleta/ Para se jogar”.

Anos se passaram e o samba se consagra como uma das marcas brasileiras, sendo representado e conhecido por se aconchegar na qualidade de diversos artistas, entre eles estão: Sombrinha, Dona Ivone Lara, Candeia, João Nogueira, Cartola, Pixinguinha, Noel Rosa, Adoniran Barbosa, Bezerra da Silva, Ataulfo Alves, Agepê, Martinho da Vila, Riachão, Nelson Sargento Arlindo Cruz, Paulinho da Viola, Alcione, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Diogo Nogueira, Arlindo Cruz, Paulinho da Viola e muito mais que ainda não conhecemos, mas a internet fará questão de nos apresentar em breve. 

Alguns desses nomes não estão no conhecimento da nova geração. E Vinny, ainda novo e com muita história para cantar, mistura as suas referências em estilos musicais e conta quais os artistas que ele admira e sonha em fazer parceria:

“Arlindo Cruz, Jorge Aragão,um ícone para qualquer sambista. Emicida, Djonga, galera chapa quente que eu admiro na cena.”

MÚSICA PARA CELEBRAR

Hoje, junto do pagode, o samba é sinônimo de churrasco, festa e reunião, o famoso som que faz você colocar as mágoas da paixão pra fora (Por quê você faz isso, Alcione?) ou levantar o copo para o alto e acreditar que tudo vai dar certo (Qualquer coisa é só deixar a vida levar, como diz o Zeca). O ritmo mais raiz do Brasil, revela diversos rostos ano a ano e quando chega uma letra que representa tão bem o atual sentimento  das pessoas, não dá para não se envolver. 

Quem nunca compôs uma música e não sabe como é somar palavras, pensar na percussão, como ela ficaria bem na melodia romântica ou na batucada para dançar até gastar a sola do sapato, não imagina se esses ingredientes podem vir por dom ou técnica, nessas horas não se  compreende como esses sons “chicletes” ocorrem em um determinado momento.

“Não existe diferença em grau de dificuldade para compor um samba alegre ou triste, tudo vai do momento em que o cara está vivendo, compor é isso. Você passa para o papel as coisas que você sente com a sua ótica e com o seu raciocínio.”

Mesmo um bom chiclete,  bem pensado e que possui um marketing agressivo por trás, não pode pecar em perder o sabor, Vinny conseguiu ser um artista de vários talentos mas que possui um som em especial que está bombando e dando base para os próximos que virão. Seu álbum será lançado em breve e traz mais canetadas do artista. O cantor acaba de lançar uma prévia de um dos sons do disco: “Crioula”

“Eu não acredito em mercado, a gente faz a música e o povo gosta, se o povo gosta de ouvir virá chiclete, se o povo não gosta, não vira. O que vira chiclete é porque é muito bom…Não existe fórmula, música é música! Se existe uma fórmula ou um molde de alguma coisa, eu nem penso nisso, não circulo nesses parâmetros.” 

O cantor já comentou em várias entrevistas que voltou a ter contato com a música em São Paulo, após uma pausa em outros trabalhos e também na vida de atleta, já que defendeu a Seleção de Brasileira de Karatê por vários anos antes de levar seus golpes certeiros para o samba.

E foi na Vila do Samba, entre as suas folgas de trabalho na Chilli Beans, onde ele tocou novamente em seu lado artístico. A partir daí tem muita história e grande parte dela é encontrada em suas composições que traduzem momentos vividos na carreira, pensamentos e sentimentos que já passaram e alguns que ainda estão fazendo barulho e querendo sair em forma de rabisco e acompanhado de melodias.

“Não existe momento específico para compor, a música é uma parada muito inexplicável. Eu espero o momento em que a música vem e se apresenta para mim, algo me chama a atenção e aí rola um start, uma luz. E tem sonhos, eu sonho muito com música.”

Pauperrecido: Seus caminhos na música

Vinny ainda tem uma longa carreira pela frente, mesmo assim as suas canções mostram que essa corrida já é desde lá atrás. Cada artista começa de uma forma, vem de um lugar, mas todos se encontram quando falam da sua arte e de como são tocados por ela.

O sambista recebe está luz para composição e a obedece, assim como obedecia as técnicas do karatê que poderiam ter feito dele um campeão da seleção brasileira, quem sabe?

O poder que a música tem de renovar os pensamentos e mudar a realidade de vida das pessoas vindas da periferia é algo inexplicável, talvez seja como o artista diz em entrevista “chama a atenção e rola um start, uma luz”.

A música mudou a vida do artista, assim como antes o esporte também já havia mudado, caso você se identifique com a sua caminhada até aqui, seja como artista, esportista ou com as suas composições no samba, é um sinal de que você entendeu a mensagem passada por “Pauperrecido”, a música apenas deseja te lembrar que você pode ser o que quiser

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Ana Carla Dias

Jornalismo e Direção de Arte

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