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Ojizzy: de produtor do Mr. Catra a febre nas redes sociais

Conheça o cara que foi apelidado de Mago dos Beats por suas composições criativas

Desde cedo inserido dentro do mundo das artes, O Mago dos beats, como é popularmente conhecido nas redes sociais, já sabia que era isso que queria para a vida. Mas, quem vê o artista hoje em dia, nem imagina o que esse catarinense fez pra conquistar seu espaço. 

Ojizzy conta que sempre se interessou pelas artes, na época da escola se imaginava ator no teatro. Crescendo, foi se apegando a música. Ainda novo, o Mago já costumava tirar sons dos mais diversos objetos na sua casa. Talvez ele já estivesse prevendo sua carreira no futuro. Crescendo ao som dos clássicos do rap internacional, as influências partiam desde a sonoridade até a estética dos grandes nomes do hip hop

Início como músico

Na adolescência em Joinville, Osvaldo, nome de batismo do músico, ainda tinha o sonho de ganhar a vida com arte. Entre as idas e vindas, ele sempre dava um jeito de tirar um som, independente da sua rotina. Prova disso foi a fase de tecelão do artista. Trabalhando fazendo cadarço numa fábrica da cidade, o artista conciliava sua rotina ao sonho da arte. 

Pra tirar uma grana suficiente pra montar seu primeiro estúdio, o rapper usou da sua ocupação na época e dos bicos fazendo jingles de lojas no seu bairro para juntar as moedas. Entre tantos momentos, o músico lembra de uma circunstância:

“Tive que provar pra minha família que conseguiria chegar lá. Apesar de tudo, minha família acreditava em mim. “Na época que comecei a me profissionalizar eu namorava, mas a família da minha namorada não botava fé que daria certo. Tinha que provar pra eles também.”

Fase no eletrofunk

Decidido a mergulhar por completo na música, o Mago decidiu entrar pelo caminho mais prático. Nessa época, na região dele, a moda era eletrofunk, hoje conhecido como megafunk. Em meados de 2013, o funk estava em alta.  Foi então que o Ojizzy teve a ideia de juntar um grupo de funkeiros com influências do trap, que era o gênero que ele mais curtia. Na região em que ele morava não existia nada parecido com isso. Logo, o músico conseguiu se popularizar dentro da vertente em Santa Catarina e no Paraná. 

Nesse meio tempo, outros artistas foram conhecendo seu trabalho e ele começou a produzir cada vez mais gente. Vale lembrar que o Mago sempre se destacou nos beats, mas além disso ele sempre se arriscou nas composições e cantorias também. Ojizzy pensava que para chegar no rap e produzir o que ama, precisaria rodar por outras sonoridades e conseguir conexões. Não deu outra, o artista começou a produzir outros ritmos. 

Rolê com MC Alandim e o Mr. Catra

Nesse rolê das vertentes do funk, Ojizzy conheceu o MC Alandim, o filho do lendário Mr. Catra. Numa troca de ideia intensa, Alandim convocou o produtor catarinense pra um encontro profissional.  Nessa época, ainda morando fora do eixo Rio-São Paulo, o músico encontrou seu primeiro obstáculo, a falta de recursos financeiros para ir até o MC Alandim e o Mr. Catra. Foi onde surgiu a ideia de convencer alguém a investir nele ajudando na viagem. 

“Eu tenho certeza que se eu encontrar o Alandim, eu falo com o Catra e consigo mostrar quem sou pra ele. Ele vai mandar minha passagem e eu vou trabalhar com ele”

Ele consegui a grana. O encontro aconteceu. o músico foi até o Rio de Janeiro pessoalmente encontrar com o Catra em sua casa. Ojizzy conta que no primeiro contato que tiveram, o paizão já o desafiou a produzir um beat em cinco minutos. O rapper conta que conseguiu. Para ele foi um dos maiores feitos, já que chamou a atenção de uma das lendas do funk nacional. O contato com o Catra facilitou diversas outras conexões. Nessa altura, o produtor já conhecia pessoas influentes do rap e do funk carioca. 

O convite

Meses depois desse primeiro encontro, acontece algo inusitado. Alandim, parceiro da galera da ConeCrewDiretoria, famoso grupo de rap, comentou que havia um produtor brabo que morava no sul do país e que era o que a banca precisava para os próximos trabalhos. Nessa, o Cert, um dos membros do grupo, entrou em contato diretamente com o Ojizzy para marcar um encontro e tratar de negócios. No entanto, o pacato músico de Joinville desacreditou da proposta, achando que fosse alguém querendo fazer uma ‘zoeira’. 

Foi aí que a história tomou outra proporção, pois o próprio Catra ligou pessoalmente para o produtor cobrando uma postura pelo que tinha acontecido, qual a motivação que tinha levado o músico a negar o convite. A partir daí caiu a ficha para o Mago.

Após um convite pessoal da lenda do funk carioca, Ojizzy se animou com um novo momento em sua carreira. De volta ao Rio de Janeiro, agora com a proposta de produzir grandes nomes do rap da época, o músico começou a se destacar. Em meio a muitas produções,  Ojizzy ficou responsável por trampar junto com a rapaziada da ConeCrew, e assinar alguns sons com o Papato

Trampo com Mr. Catra e ConeCrewDiretoria

Em um dos sons que o Mago participou junto ao grupo carioca, está a música “Chapadão”, uma cypher que contava com os nomes conhecidos da Cone em parceria com o Mc Alandim e seu pai, o próprio Catra. Lançada em maio de 2018, esse som foi uma das últimas músicas com participação do paizão, que faleceu em setembro do mesmo ano.

Apesar da música ter grande importância para Ojizzy, por ele ter participado da composição e produção, ele ainda conta que ficou chateado por não ter sido reconhecido como um dos participantes da obra também. O produtor ainda frisa que nem chegou a receber royalties da música, mesmo tendo feito parte dela.

Mas esse episódio não muda o fato do músico ter sido adotado pelo Catra. O rapper ainda conta que teve a honra de ter uma música solo com participação da lenda do funk. A faixa “Ela é samba”, também produzida por ele, conta com linhas do Catra. Nesse som a sonoridade é composta com toques do próprio samba aliados ao funk e ao trap. Junções totalmente novas para a cena da época e também para o Catra, que começava a se arriscar em novos ritmos.  

O paizão abriu portas

Assim como muitos, o Mago também considerava o Mr. Catra como pai. Uma amizade que começou a partir da música e que permaneceu mesmo com a volta de Ojizzy a Joinville, após o término dos trabalhos no Rio. Do mesmo modo, o funkeiro é descrito pelo produtor como uma pessoa de coração imenso e parceiro em todos os momentos.

Trabalhando com a referência do funk, Ojizzy passou a ser reconhecido como o produtor do Catra. Esse reconhecimento continuou presente mesmo após a morte do Mister. Apesar disso, mesmo com o crivo do paizão, muita gente ainda não tinha conhecimento de seu trampo. Isso mostra como funciona o mercado musical, e como produtores, mesmos os mais credenciados, ainda não são valorizados.  Tempos se passaram, Ojizzy continuou dentro do mercado da música, produzindo e participando de shows de artistas variados.

Pandemia e as produções 

No entanto, chegou a pandemia de covid-19 no Brasil, e o artista teve que se reinventar em suas produções. Dessa forma, foi a partir daí que teve a ideia de fazer beats de objetos aleatórios, algo que trouxe o produtor de volta para a vitrine da cena, e, de quebra, ainda lhe rendeu  muitos seguidores nas redes sociais.

Mago, intitulado assim pelos seus fãs, por fazer magias e transformar tudo em música, começou a compor em cima de objetos variados. Em sua página do insta, sempre com muita descontração, o beatmaker mostra como funciona o passo a passo de uma produção com algo aleatório, desde um sabonete até uma folha de papel, retirando dali, as notas musicais. 

Os desafios dos beats aleatórios

O seu beat com uma lata de Coca-Cola, por exemplo, teve mais de um milhão de visualizações em uma rede social. Ojizzy conta que não esperava repercussão em cima disso. Ainda de acordo com ele, produzia esses beats como uma forma de se manter na ativa, praticando.

A partir do momento em que o produtor percebeu o potencial disso, passou a fazer beats com tudo que encontrava pela frente. Liquidificador, brinquedos, artigos de sex shop, tudo isso virou instrumento nas mãos do Mago. “O que os seguidores sugerem, Ojizzy faz”, brinca. Em outras palavras, isso virou uma febre entre as páginas de rap do Brasil.

Em contrapartida a visibilidade gerada a partir dos beats com os objetos, aliada a carreira recheada com notórias produções, Ojizzy decidiu produzir um curso de produção musical. Que deve ser anunciado o lançamento em breve. Além disso, o músico prepara um disco pra pista. Ainda neste mês deve ser lançado também.

Futuro

Hoje, além de ainda fazer os desafios nas redes sociais e focar no trampo solo, o Mago ainda é produtor musical oficial de alguns de artistas. Recentemente, Ojizzy ainda anunciou participação na engenheira de áudio da The Box, produtora audiovisual que se popularizou reunindo artistas notáveis do trap nacional numa sessão de freestyle.

Dessa forma, com muitas indas e vindas, Ojizzy planeja seguir com muitas produções nos próximos meses. Após sons com Raffa Moreira e lançamentos solo, o músico prepara um feat com o DJ Salatiel, do funk paulista. A longo prazo, o Mago pretende surpreender novamente com possíveis lançamentos internacionais. Veremos o que o futuro reserva para esse cara que já fez de tudo dentro da música.

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Uesley Durães

Nordestino periférico apaixonado pela cultura Hip Hop e jornalista. Duas décadas tentando dar o meu melhor nas minhas piores fases.

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