Entrevistas

Gabriellê lança single sobre ansiedade e saúde mental

A  cantora, compositora e produtora musical Gabriellê, lançou nesta quinta (20), o single “Wikipedianos”, o quarto trabalho autoral de sua carreira. A música e o videoclipe tratam sobre a necessidade que sentimos em saber de tudo a todo momento e de como isso é extremamente maléfico à saúde mental.

A produção musical ficou por conta de Diabelsmusic, que também produziu “Oxitocina”, o último single lançado pela cantora, em novembro de 2020. Já a produção audiovisual, ficou por conta da GomaKaya Produções, uma produtora independente da Zona Sul de São Paulo, formada por três mulheres pretas.

A cantora possui várias composições dentro da temática da ansiedade e da saúde mental, mas Wikipedianos é o primeiro single que ela traz ao mundo para abrir ao público essas questões. Para falar mais sobre esse lançamento, produções durante a pandemia e questões relacionadas a saúde mental, a cantora bateu um papo com o Rap Dab com exclusividade.

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Confira a entrevista completa com a cantora Gabriellê:

Rap Dab: Como seus processos pessoais de lidar com a saúde mental desenbocaram na criação da música?

G: Desde pequena sempre fui muito inquieta, vinham várias dúvidas sobre tudo na minha cabeça e eu vivia perguntando aos meus pais o por quê ou significado de várias coisas. Hoje tenho 24 anos e há uns quatro anos atrás comecei a ter crises de ansiedade com mais frequência. Nos primeiros meses, eu não entendia porque meu corpo estava reagindo daquela forma; era muito agoniante sentir que meu próprio corpo estava “fora do meu controle”.

Até dois anos atrás, quando eu comecei a fazer terapia, tinha dificuldade em aceitar ou lidar com a ansiedade, não que hoje seja algo super fácil, mas na época eu não conseguia processar que apesar de tão nova, eu me encontrava naquele estado.

Pela minha criação e também pelo tabu que o tema da saúde mental ainda é na sociedade, principalmente para pessoas pretas por questão de acessibilidade limitada de terapia, informações ou tratamentos, eu considerava que tinha algo de errado comigo por ser alguém ansiosa, por sentir da forma que eu sentia, por vezes ter noites de insônia e assim vai.

A composição, durante esse período todo de entender o que estava se passando dentro de mim, foi uma aliada onde eu podia me expressar sem o julgamento meu ou das pessoas acerca do que eu estava sentindo e vivendo, foi uma espécie de melhor amiga, em quem confiei para desabafar as coisas mais íntimas, e com Wikipedianos, não foi diferente.

A música surgiu numa noite de insônia, onde como de costume, eu mexia no celular compulsivamente e pesquisava várias coisas na internet; desde coisas que eu compraria mas não tinha o dinheiro para comprar até curiosidades sobre qualquer tema que me interessasse. (Confira “Wikipedianos” no final do artigo)

RD: Você sente que essa música te ajudou ou tem ajudado a superar melhor seus processos?

Gabriellê: A música então surgiu desse questionamento do por quê será que sempre queremos ter todas as respostas, por que o inseguro e incerto sempre nos assusta, sempre queremos ter o controle de tudo. Um reflexo disso é como o ser humano nunca está satisfeito com o que tem e sempre busca criar e consumir mais e mais, mesmo que isso destrua o nosso meio ambiente, que deveria ser cuidado de forma cautelosa, já que é a nossa casa.

RD: Como se deu a escolha da produção musical e do roteiro e produção audiovisual?

G: A produção musical ficou por conta do Diabelsmusic, que também produziu “Oxitocina”, o último single que lancei, em novembro de 2020. Convidei Diabelsmusic para essa produção por curtir muito a atmosfera que ele consegue criar nas músicas com os seus arranjos e instrumentais, o que combina muito com essa faixa, já que eu queria criar uma atmosfera leve que nos levasse também a refletir enquanto ouvimos o som.

A ideia era abordar a temática de uma forma mais descontraída, já que esse é um tema presente na vida de tantas pessoas e precisa ser cada vez mais “naturalizado”. Precisamos naturalizar falar sobre saúde mental, admitirmos quando não estamos bem ou precisamos de ajuda. Já a produção audiovisual ficou por conta da GomaKaya Produções, uma produtora independente da Zona Sul de São Paulo; formada por três mulheres pretas, que são Mariana, Aline Anaya e Jubiis. 

Gravado em dois locais diferentes, o clipe do single foi pensado de forma que pudesse transparecer dois estados de espírito diferentes, o caos e a calmaria.

A primeira locação escolhida foi o Ferro Velho Santo Amaro, representando essa ansiedade, o acúmulo de coisas, de informações, e também, fazendo referência ao lixo eletrônico, consumismo e reciclagem. Em contrapartida ao caos, surge a segunda locação, o Parque Nabuco, que representa a tranquilidade, busca pela paz de espírito e momentos de calmaria.

Em ambos a dançarina convidada, Bruna Vitorino, dança representando essa fluidez entre o estado de espírito mais agitado e ansioso, e um em busca da tranquilidade e paz de espírito; assim como, a oscilação entre esses dois estados.

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A cantora comenta sobre os planos para este ano

RD: Como foi a experiência de lançar uma música mais na pegada reggae. Pretende seguir essa linha nos próximos lançamentos?

G: Eu sempre ouvi diferentes estilos da música preta; e acredito que todos eles influenciam e dialogam em alguma escala com a musicalidade das minhas composições. Não me vejo como uma artista que lança em apenas um gênero musical, pois isso não reflete quem eu sou.

Gosto de compor em vários gêneros ou misturá-los um pouquinho e isso se deu muito pela minha vivência, já que além de cantar, eu frequentei também batalhas de rima como a Batalha Dominação, na São Bento, em São Paulo. Nos próximos lançamentos, pretendo continuar nessa mistura de gêneros, que faz parte da minha identidade musical, então as pessoas podem esperar algumas surpresas da minha parte. (risos)

RD: Gabriellê, quais são os planos pra esse ano?

G: A pandemia pausou boa parte dos planos musicais, ou fez eles rolarem de forma mais lenta. Como a prioridade tem sido me cuidar, resolvi desacelerar e ir trabalhando de forma segura, então algumas gravações em estúdio, por exemplo, foram adiadas. Trabalho de forma remota dando aula de canto popular, pré-produzo algumas faixas e também faço produções musicais para algumas artistas.

No dia 14 de maio, saiu a música “Manda Mensagem”, da poeta e MC Ingrid Martins, em que eu fiz a produção musical. A ideia esse ano é ir produzindo o que eu consigo em casa, para não ficar parada, e ir lançando conforme a realidade permite, já que sou artista independente. Mas sigo trabalhando.

RD: Qual dica você daria neste momento aos artistas independentes wikipedianos?

Gabrillê: A prioridade desse momento é nos cuidarmos. Evitar aglomerações, usar sempre a máscara e álcool em gel quando precisar sair, e também procurar cuidar da mente, buscando terapia se for possível. A sensação de impotência bate na porta de uma maneira muito forte, já que nos sentimos encurralados pelo isolamento e ao mesmo tempo por sermos independentes, não conseguimos acompanhar o ritmo de artistas que têm uma estrutura melhor e seguem produzindo mesmo na pandemia.

Mas a dica que eu dou é faça a sua arte dentro da sua casa, se for gravar algo, saia para gravar em momentos específicos quando tudo já estiver bem planejado, pois o mais importante agora é que sobrevivamos a essa pandemia e pra isso sabemos que não podemos contar com o Estado. Só podemos contar com nós mesmos, então se cuide, liga pra alguém se precisar conversar e desabafar da vida. Vamos nos cuidar.

Enfim, assista abaixo ao videoclipe “Wikipedianos”, lançamento de Gabriellê:

Ficha técnica:

Música: Wikipedianos
Artista: Gabriellê
Composição: Gabriellê
Produção musical: Diabelsmusic 
Produção Audiovisual: GomaKaya Produções
Assessoria de Imprensa: GRIOT Assessoria

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