Vapo, vapo, vapo… não tem como começar a falar desse DJ sem usar a palavra principal que ele coloca em seus remixes, você que, antes da pandemia, estava acostumado a ir para bailes de rua ou em casas de shows para ouvir o beat do funk, já deve saber que a partir de agora o sertanejo terá espaço na pista, mas não é mais para colocar o punho na testa, fechar o olho e curtir aquela sofrência, dessa vez, embalado pelo beat do funk, muitas letras conhecidas vão pedir um passinho diferente.
“Antes de começar a trampar como DJ, eu só estudava. Esse foi o meu primeiro trabalho e, graças a Deus, já deu certo”, diz Lucas Felipe Narcizo Silva, 20 anos, morador de Presidente Prudente (SP) e conhecido, principalmente na internet, como DJ Lucas Beat.
Hoje o rapaz possui um canal no YouTube com 47 vídeos, celebrando o sucesso com 1 milhão de inscritos, alcançados recentemente, ou seja, é muita gente interessada nas produções do jovem que já está viralizado em plataformas como Tik Tok e Instagram.
É O DJ LUCAS BEAT!
“Desde de criança eu sempre gostei de música, sempre fui apaixonado por música, mas eu gostava de um estilo específico que era o eletrônico. Eu via os caras tocando, como o David Guetta naquelas festas tipo o Tomorrowland. Eu falava mano que bagulho louco isso de fazer música eletrônica, tocar, poder ir no evento, achava foda e pensava que queria isso para mim. Já gosto de música, já vi que tem como trabalhar com música, então eu fui atrás.”
Em entrevista ao Portal Rap Dab, Lucas contou que já houveram momentos em que pensou em desistir da música, buscando focar em profissões ditas mais “tradicionais”, entrar em uma faculdade e garantir o seu lugar no mercado de trabalho, mas uma vez que, ainda na adolescência, ele soltou o som… ficou preso na batida do beat.
“Chegou em um tempo que eu estava me dedicando ao máximo nisto, estava estudando e isso ocupando muito tempo da minha vida e não tinha um avanço – nem digo retorno -, eu via as minhas músicas e não estava gostando. No começo… beleza, né? É meio zuada, eu me via estudando e estudando, mas não via melhora e também não sabia em que caminho seguir para chegar onde um David Guetta chegou.“
O CAMINHO ATÉ O BEAT…
“Vi que estava me atrapalhando na escola, eu ficava até tarde estudando e ouvindo sobre música, chegava na escola e estava com sono já e ficava pensando ‘será que eu vou dar certo nisso?’, medo de investir muito tempo para nada. Pensei em desistir e fazer uma faculdade, algo mais garantido, sabe?”
Lucas começou por volta dos 14/15 anos a pesquisar sobre músicas, pesquisando como seria fazer as próprias produções, ele descobriu o programa FL Studio, um dos softwares mais usados para produções musicais, programa que já possui diversas atualizações, tornando-se uma estação de trabalho digital bem requisitada por profissionais da área.
“Assim que eu baixei ele, a primeira coisa que eu pensei em fazer foi desistir, vi um monte de botão, um monte de função eu não sabia fazer nada. Fui atrás de aprender a mexer no programa. Olhei no YouTube, tudo o que eu aprendi até hoje foi no YouTube, pesquisando como é que mexe no programa e como faz música eletrônica… e fui estudando.”
Vendo as suas produções sendo notadas por diversos artistas, postadas por influencers, sendo trilha sonora em vídeos de entretenimento, nem se imagina o quanto de estudo e de coragem ele precisou para que as caixas de som conhecessem seus remixes.
“Comecei a me arriscar e fazer as minhas primeiras músicas, eram eletrônicas, não tinha voz e nem nada… era só a batida e a melodia. Fui fazendo, aprendendo e sempre estudando mais e querendo melhorar”, diz sobre o início de seu com as produções.
A CENA MUSICAL
A realidade dos artistas que optam por gêneros musicais que não possuem grandes aprovações e bons olhares no mundo da música é diferente. O preconceito e a desvalorização são perceptíveis, principalmente, na falta de espaço que produtores e artistas têm nas grandes mídias, mas com a internet não tem como mais fingir que esses sucessos não estejam acontecendo.
Definir qual o estilo musical é ou não é um bem cultural no país, não pode estar apenas no poder de decisão de uma pequena parcela de pessoas, independente do seu valor ideológico, além de gostos serem democráticos o som também precisa encontrar um caminho livre para ser escutado.
“O segredo é o seu diferencial. Peguei uma música que a galera já conhecia, muitas vezes uma música que não tem nada a ver com o funk, acho isso inovador porque o remix em si sempre existiu. Isso de pegar músicas do sertanejo que são tristes e trazer para o funk ainda não tinha muito e quando tinha, pegavam sons mais animados ou gringos. Gosto de pegar músicas que ninguém imaginava na batida do funk. As músicas já são conhecidas, assim, quando eu solto o meu remix, a galera já sabe cantar. O Tik Tok e o Instagram ajudam muito, os vídeos usando as músicas de fundo dão certinho com o remix, fica dançante e toca no baile… HOJE EM DIA CONSEGUI COLOCAR O SERTANEJO DENTRO DO BAILE.”
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O início dos remixes que conhecemos veio de muita curiosidade por parte de Lucas, também do momento em que decidiu retomar, após um tempo afastado de seus estudos e elaboração no programa de som.
“Eu parei, mas nunca desinstalei o programa, eu entrava vez ou outra e mexia um pouco. Quando foi lá para 2017, bem no comecinho de janeiro mesmo, escutei uma música do Mc Davi, na época estava estourada [Se tu for linda tá], achei foda a música, porém, o que me chamou atenção foi o beat, porque o beat dela era parecido com uma percussão que eu usava na música eletrônica, então eu pensei que se eu encaixasse aquela percussão que eu uso na música eletrônica, como é parecida, fazendo em sequência no beat de funk, acho que eu consigo também produzir um beat de funk, e comecei a pensar nisso.”
NASCENDO UM BEAT, CRIANDO REMIXES
“Abri o programa na curiosidade para fazer e peguei a percussão parecida, sei que eu demorei meia hora para fazer algo que, hoje em dia, faço em 5 segundos… o beat do tchu tcha tcha tchu tcha.
Nunca tinha feito isso na minha vida e fui montando até que consegui, vi também que tinha uma sequência de grave, prestei atenção nisso e vi uma forma de pôr o grave junto e fui colocando. Pronto! Tinha o beat e o grave de funk e, pela primeira vez, eu havia feito o beat de funk, detalhe que na época eu nem gostava muito de funk, principalmente os que tinham palavrões, não gostava e nem ouvia, eram só algumas […] Eu era da música eletrônica ainda naquela época.”
Após isso o funk virou um objeto de pesquisa para Lucas, onde conta que explorou ainda mais sobre o instrumental desse gênero, se atentando melhor a cada percussão de som e os encaixes possíveis no funk, também descobriu que essas produções tinham um espaço legal no YouTube.
“Vi que existiam canais no YouTube apenas para postar beat, para Mcs usarem como fundo em algum vídeo, né… Vi canais que tinham 5 mil ou 10 mil inscritos só com beats” diz ele.
Para fechar negócio com os Mcs que passaram procurá-lo para que produzissem os seus sons, Lucas colocou um valor inicial de 25 reais, já que estava iniciando nesse caminho de se profissionalizar como produtor e como ele disse “estava se tornando um caminho sério para me proporcionar uma renda […] assim foi indo”.
O BEAT NO YOUTUBE
No ano de 2018, o seu canal do YouTube já possuía 45 mil seguidores, abrigando algumas produções que ainda não eram as estouradas na cena musical, mas já carregavam a personalidade do DJ, foi justamente nesse período em que o seu canal foi denunciado e infelizmente derrubado do YouTube.
“Não sei porque alguém agiu de má fé e denunciou o meu canal que não tinha nada de errado, só tinha meus beats, nem meu rosto eu postava”.
Lucas também compõe letras e já se arriscou nos microfones, mas hoje em dia está bem mais confortável na composição das batidas que vem dando muito certo em suas mãos.
O quê que a vida aprontou dessa vez, DJ Lucas Beat?
“A parada tá crescendo de uma forma que eu jamais imaginei, até então eu só estava postando as minhas músicas no YouTube, nem têm em outras plataformas, no Spotify, você encontra algumas porque uma galera subiu, [também há as liberadas de parcerias] mas não podia porque para subir a musica tem que conversar com as gravadoras e com o artista, já que é um remix, né. Muita gente – muita mesmo – me manda mensagem pedindo certas produções nas outras plataformas como Spotify e Deezer, tudo está tomando uma proporção bem grande, sabe?”
AS JUNÇÕES E OS SUCESSOS!
Atualmente no Spotify são contados 1.369.152 ouvintes mensais de suas músicas, as melhores ranqueadas do momento são:
1 – Sentimento Seu Nenhum
2 – Oh Rita – Magrão
3 – Lonely – Brega Funk
4 – Alô Ambev – Funk Remix
5 – Com Ou Sem Mim
“A minha primeira música que estourou foi a Tuts Tuts Quero Ver/ Pensando Em Você, foi a primeira que mudou tudo na minha carreira e em geral. Por causa dessa música que eu tive a ideia de fazer remix e tive a ideia de trazer o sertanejo em cima desse beat.”
Entre brega funk, remix de sertanejo raiz e as músicas das mais sofridas possíveis, ele traz para o baile a música que, na maioria das vezes, foi feita para curtir um sentimento melancólico. Esse ‘recapeamento’ no som acaba ressignificando não só as canções que antes eram atreladas há sentimentos ruins, mas também os ouvintes no momento em que escutam as letras, entretanto agora dançando e embrasando nas festas.
“E a ideia inicial que eu tive, e que deu certo, foi fazer com a ‘Na Conta da Loucura’ de Bruno e Marrone que já chegou estourando, em menos de um mês ela estava bombando. Quando eu via a galera dançando no Tik Tok, achava muito massa. Descobri que tinha uma opção no Tik Tok que você visualizava quantas pessoas usaram o mesmo som para gravar vídeos e quando eu cliquei, para ver quantas escolheram a Tuts Tuts, eram mais de 100 mil, eu tomei um susto! Era cada vídeo massa com o meu som, alguém dançando, fazendo teatrinho, eu não acreditei e fiquei feliz demais.”
“Já me imaginei tocando em show lotado, mas em TV nunca me imaginei.”
“Eu acho errado questionar se você gosta mais da versão original ou da remix, música não é uma competição! Você escuta o que você quiser ouvir. Existem críticas e elogios ao remix, acho interessantes os comentários das pessoas falando que não conseguem mais ouvir a original depois da minha versão, então você vê como a parada tá enorme… está começando a chamar mais atenção ou da mesma forma que a original.”
E o público tem se interessado tanto que o artista Bruno da dupla Bruno e Marrone chegou a postar um vídeo ao lado dos seus filhos Enzo Rabelo e Maria Eduarda Rabelo no Instagram, dançando a versão remix de sua música.
“Agora pela proporção, eu penso em fazer clipes, mas isso não depende só de mim, depende também do artista original, mas acho que a galera iria gostar. Mas eu e a minha produtora estamos entrando em contato com alguns já, acho que seria legal a ideia, vamos ver se sai.”
Questionado se ele possui um remix favorito, diz:
“Olha falar para você, remix favorito eu não tenho, é logico que pela Tuts Tuts eu tenho um carinho enorme porque foi onde estourou e tudo começou, mas ‘Moça Sai da Sacada’ [original, Amianto do grupo Supercombo] é uma das que eu acho muito massa, porque ela é uma música muito sad, né? Mas eu não mexi nessa estrutura, só mudei a batida e, hoje, ela é pra cima.”
Acho que dá pra perceber que um dos intuitos de Lucas Felipe Narcizo Silva é a dar um toque de felicidade na indústria musical, ele começou isso mudando o toque de algumas batidas e com muita maestria, encontrou sucesso sintonizado as suas produções.
Dá próxima vez que você escutar em um som “DJ Lucas Beat” saiba que por trás dessa nomenclatura existe muito estudo e muita vontade de te ver dançar!
Confira algumas produções do DJ: