A transparência das músicas e da carreira da rapper Cristal

A revelação do rap nacional conta sobre suas composições e dá detalhes sobre seu próximo EP intitulado Quartzo

Desde muito nova no mundo da arte, Cristal vem se destacando no cenário do rap nacional por sua sensibilidade lírica. Com um single recém lançado intitulado “Ambição” e várias participações em músicas de artistas influentes do rap nacional, a gaúcha prepara seu disco Quartzo. Com uma musicalidade muito ligada à resistência, a artista quer trazer à tona uma produção única para a cena do rap nacional em capacidade expressiva de sentimentos.

Antes de falar sobre seu disco, é necessário saber sobre as raízes de Cristal, considerada uma das revelações do rap nacional. Desde os slams, batalhas de poesia de temas livres, Cristal sempre se destacou por sua grande capacidade poética e seus versos que tratavam da realidade dos brasileiros de forma singular. A menina das poesias desde muito nova se envolve no mundo da arte. Incentivada principalmente por seus amigos e familiares, a rapper comenta que deve muito ao pessoal do slam. Eles foram os responsáveis pela evolução da Cristal enquanto artista. Apesar de admitir ter medo das reações e das aprovações das pessoas sobre suas músicas, ela conta que tem uma base muito forte, e sua família dá a segurança que ela precisa para seguir em frente.

Making of do clipe de “Ambição”| Fotografia: Alisson Batista

Como herança dos slams de poesia, Cristal se caracteriza pela sensibilidade lírica e pela facilidade de demonstrar suas emoções. Ao contrário da onda trap do momento, a rapper busca compor em cima de sentimentos e causas, para assim alcançar grandes objetivos. Claro que para compor não existe uma regra geral que te obriga a tratar sobre algo, mas para a rapper é importante que a música toque sua avó, uma de suas maiores incentivadoras,  assim como tocam nos manos e manas da quebrada.

Isso fica explícito no seu verso em Deus Dará, música de sua participação no álbum Histórias da Minha Área, do Djonga, “Pra minha vó tanto faz o que é punchline, desde que seja verdade e comunique a todos ‘nóis’”. Assim, a rapper mostra que pouco importa a forma como a mensagem vem, e sim o que ela representa. 

Cristal e a transição das poesias faladas para o rap

Mas antes de toda a repercussão de seu trabalho dentro do rap, Cristal já se empenhava em produzir músicas. Seu primo e produtor musical, MDN Beatz, a acompanha desde o início da jornada. Foi ele quem incentivou a poetisa a colocar seus versos em cima de beats. Anos se passaram, e a artista se aprimorou cada vez mais melodicamente. Apesar do desafio de transformar sua métrica de poesia para o rap, o brilho no olho de se expressar musicalmente a deixou confortável para arriscar.

Seu primeiro som a ganhar força foi a faixa “Rude girl”. Cristal comenta que a produção foi mais enquadrada, padronizada, já que era uma de suas primeiras composições a ganhar certa visibilidade na cena. Apesar disso, o som foi um marco para a rapper, que viu seu protesto, levantando a bandeira dos pretos no sul, alcançar cada vez mais pessoas. “Tenho um carinho muito grande por ela pois ela me abriu portas” completa Cristal. Natural de Porto Alegre, ela vê a necessidade de fugir da lógica do eixo Rio-São Paulo, e representar as periferias de sua região também.

Ashley Banks

Já em “Ashley Banks”, faixa com uma proposta totalmente diferente da anterior, Cristal apostou numa interpretação cômica para chamar atenção da cena. Dentro do seu quarto, viajando nas imaginações e compondo sobre a história de uma família afro-americana bem sucedida, a rapper associou os personagens da série Um Maluco no Pedaço a sua família, e se perguntou como seria sua vida se ela fosse a Ashley Banks. Assim surgiu o som que alavancaria sua carreira. No momento que surgiu a composição, Cristal não fazia ideia de que seu som iria ganhar tanta repercussão. .

“Fiz na loucura, construí o som sem pretensão”, completa

Agora, fora da bolha, ousando com um single interpretando uma canção de forma divertida e solta, melodicamente, Cristal se surpreendeu com o resultado. Assustada com a repercussão que esse som traz até hoje, a rapper comenta que apenas arriscou para ver no que dava. Deu resultados. O som chegou até os ouvidos de um dos expoentes do rap nacional, Djonga. Após esse passo, Cristal abriu ainda mais seus horizontes, e foi chamada para participar do disco do rapper mineiro, consagrado na cena.

Fotografia: Alisson Batista

Deus Dará part. Djonga

Voltando para a faixa “Deus Dará”, do disco do Djonga, Cristal comenta que ela traz uma pegada diferenciada, traz vários papo retos, metas e objetivos. Ao mesmo tempo soa de forma descontraída, numa melodia diferente. Algo que surge de forma natural, que qualquer pessoa entende a mensagem, e ao mesmo tempo se agrada com o ritmo guiado pelo beat do Coyote, produtor musical da faixa.

Quando o papo é evolução, Cristal diz que sempre está em busca de melhorias:

“Eu tenho muito orgulho dessa trajetória, pois nunca estive sozinha. Como artista tô aprendendo cada vez mais”

Guiada pela vontade de fazer arte, e com o apoio de quem ama, a rapper se mostra contente com o caminho que vem trilhando. Nesses trajetos de aprendizado, ela conta que está sempre buscando fugir de caixas, padrões. Se desafiar é a chave para a evolução que ela tanto busca.

EP Quartzo

Em breve, a rapper vai lançar seu EP intitulado Quartzo. Com um novo olhar, a artista se reinventa trazendo uma nova proposta para a sua carreira.

“Antes eu falava de problemas externos. Quartzo vai ser de dentro pra fora”

Nesse ponto de vista, a artista quer deixar explícito sentimentos que talvez nunca foram mostrados. Ela ainda comenta que alguns cristais têm poderes curativos, deixando visível um significado místico da obra. 

O EP, com seis faixas, vai contextualizar cada tipo de quartzo e suas cores a cada uma música. Dessa forma, cada som vai ter uma vibe diferente, com uma sonoridade diversa.  Além de toda a representação simbólica da obra, a produção ainda deve contar com vários feats de peso. Essas parcerias ainda não podem ser divulgadas, conta a rapper. Ela garante que o público pode esperar um trabalho único na cena brasileira.  

Ultimamente, além de estar produzindo suas músicas, Cristal conta que tem ouvido muitos sons de qualidade.  “No rap ouço muito Akira, CHS, o novo disco do BK”, mas além de se inspirar dentro do gênero, ela ainda comenta que dá muito valor às raízes, principalmente ao samba.

Ela ouve desde Dona Ivone Lara até Zeca Pagodinho, além de clássicos da música popular brasileira como Jorge Aragão e Djavan. Com toda a elegância e força de uma artista brasileira, Cristal mostra que além de presente e futuro, a música é feita de história. Ela continua fazendo a dela, e mostrando que pode e quer ir cada vez mais longe.

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