Entrevista com Nana Panyin + Nana Kakra: Qual é a fórmula desse rap?
Os irmãos N.A.N.A vieram para o Brasil e iniciaram uma graduação em farmácia, mas conheceram a música e enxergaram mais química na tabela do rap
No Brasil já estamos acostumados com carreiras que começam através de formações de duplas entre irmãos, no mundo da música, isso faltava no rap. Desde Claudinho e Bochecha, Fat Family e também Pepe e Neném lá atrás, hoje, principalmente no sertanejo isso já moda e não é só de viola.
O rap é um gênero musical mais do que consolidado, mesmo sofrendo de preconceito e exclusão das mídias tradicionais, possui artistas de peso que são bem conhecidos por adolescentes, jovens e adultos no Brasil.
Uma das vertentes do rap está crescendo bastante nos últimos anos, é o trap, estilo musical criado no começo dos anos 2000, usa elementos de gêneros musicais variados.
Alguns artistas estão levantando esse gênero no país, já que, ser escutado aqui no Brasil é mais novidade ainda. Um dos grupos mais famosos nacionais do estilo é a Recayd Mob, grupo que também ajudou na divulgação e notoriedade para dois irmãos que vieram lá de Gana (África Ocidental) para descobrir uma paixão aqui no brasil, a música.
EVOLUÇÃO NO RAP
Os irmãos Nana Kakra e Nana Panyin, conhecidos atualmente como os irmãos N.A.N.A, já possuem hits com partições em suas produções, chegaram em 2014 no Brasil, precisamente em Recife e, em fevereiro de 2015, foram para São Paulo.
“Nós notamos muita evolução desde o nosso primeiro clipe. A gente melhorou a nossa dicção, conseguimos desenrolar em português, também escrever em português, nos inserimos na cultura, né! Até os nossos amigos comentam que a gente evoluiu bastante. Hoje a gente consegue bastante conexões, fizemos bastante participações com artistas.
Agora a gente ganhou experiencia, sabemos os pontos importantes para chegarmos no nosso público, aprendemos todas as fases de ser um artista: produzir, gravar, também olhar dar atenção ao marketing e fazer as conexões certas.”
Durante um período de estudos em uma graduação em farmácia na Faculdade de São Camilo, conheceram a cena do rap e então, o destino que criaria futuros farmacêuticos acabou criando compositores para o rap/trap.
Trabalharam em bares, deram aulas de inglês, também trabalharam em farmácias…tudo isso para se manter na grande metrópole brasileira. Até que em um desses roles com muita música, conheceram Derek, um dos membros do grupo da Recayd, grupo que até então também era só um projeto.
O RAP DA RECAYD MOB
“A gente já conhecia os rapazes da Recayd antes da formação do grupo, através do trap. Viemos dos EUA já influenciados pelo trap. Quando chegamos em São Paulo, fomos apresentados a roles que tocavam bastante trap, lá encontramos o Derek e o Dj Luketa, nos aproximamos naturalmente por termos os mesmos interesses. O Derek criou um grupo no WhatsApp com todos que gostavam de trap.”
Não é incomum chegar com a mala cheia de sonhos em cidades grandes, é algo que São Paulo conhece e vive diariamente em rodoviárias e aeroportos, vindas do interior dos estados mais distantes ou países, em busca de novas oportunidades ou de um lugar mais próspero no mercado de trabalho.
Foi aqui que Nana Kakra e Nana Panyin descobriram algumas fórmulas para abrirem portas, mas o resultado de tudo vem de muito talento.
“Quando a gente saiu de Gana a nossa meta era estudar. Eu e meu irmão sempre sonhamos alto, em realizar algo fora do nosso país para sermos influentes e conseguir ajudar o nosso povo, buscando conhecimento em várias paradas. Muitas pessoas no ajudaram, principalmente da família da minha mãe. Viemos dos EUA para Brasil com uma bolsa para estudar farmácia, porém, por conta de alguns problemas não deu certo e, nesse meio tempo, estudando, a gente ouvia muito trap, o dia todo.” (Nana Panyin)
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“Antes a gente frequentava alguns roles, fazendo free style, começamos a aprender a gravar. Sempre achamos muito foda, mas demoramos para aceitar essa realidade pra gente, porque a gente não saiu de gana para fazer rap ou trap, sabíamos que a nossa família não iria aceitar isso muito bem. Eles queriam nos ver estudando e farmacêuticos, mas quando percebemos que tínhamos talento e poderíamos mudar vidas, influenciar… também ajudar o nosso país, a gente resolveu investir.” (Nana Panyin)
NO RAP NÃO BASTA SÓ “APARECER”, PRECISA FAZER A DIFERENÇA
A dupla realmente foi ganhando corpo a partir de 2016, quando um áudio de Nana Kakra, mandando para o produtor Lucas Spike, acabou sendo transformado em música em virando hit, sendo o primeiro vídeo postado no canal da Recayd Mob.
A música “Mina” também tem ajuda na produção do The Boy que, na época, fez com que o canal batesse 10 mil seguidores em pouco tempo: “Só começamos levar a sério isso em 2018, porque tínhamos muita dificuldade com a língua, ainda não estávamos tão familiarizados”, falam.
“A gente não chegou no Brasil pensando em música, mas descobrimos essa paixão aqui, agora estamos vivendo disso graças a Deus, nada planejado, tudo por acaso hahaha” (Nana Kakra)
O QUE OS IRMÃOS QUEREM?
Quando pensam na carreira e nos feats que já fizeram, os irmãos unanimemente soltam o nome de Ludmilla e Anitta como sonhos de parcerias!
Os dois compõe suas próprias letras e o estilo é bem único, desde a batida até o sotaque que já e característico da dupla. Em entrevista, explicam que o que está lá nas letras é produzido naturalmente, são de vivencias diárias “é logico as vezes de forma exagerada”, citam, mas também explicam que a maioria dos hits foram feitos inteiro na mesma hora.
“Lealdade, fé, foco e correndo atrás do seu… não abaixando a cabeça para ninguém, trabalhando muito e colocando o seu talento para gerar dinheiro”
RAP LONGE DE CASA
Fazer sucesso em um país que não é o da sua origem e distante da família requer bastante responsabilidade e pés no chão. Os irmãos sabem da sua dificuldade em estar crescendo em um gênero musical que ainda é pouco valorizado no país onde eles se encontram.
“Existe muita dificuldade em ser estrangeiro no Brasil, quanto mais no gênero trap que já é menos valorizado. É uma indústria muito fechada, não tem muito investimento e espaço nas mídias, principalmente, porque a nossa língua não é a mesma, então a comunicação já dificulta, tivemos que aprender as gírias também, porque música é uma manifestação cultural, então aprender gírias é demonstrar também que aprendeu a cultura.” (Nana Kakra)
“Tem a diferença na aceitação, porque só de falar a gente já demonstra que não somos daqui, por causa do nosso sotaque, então na hora de ouvir as músicas as pessoas não estão acostumadas, porque é uma parada diferente. A aceitação da nossa música é diferença para o público. Também somos referências para quem curte esse estilo gringo que a gente apresenta, mas outros preferem seguir mais o estilo brasileiro. Uma das coisas positivas é que começamos e encontramos as pessoas certas, talentosas e que nos fortalecem.” (Nana Panyin)
Eles também evidenciam que as personalidades de ambos são bem diferentes, a parceria acontece desde sempre, mas na música não foi planejada. As letras, o beat e todo o som vem das raízes africanas e encontrou um público brasileiro que se identifica.
“Sempre fizemos tudo junto, quando começamos nesse meio da música, a gente não combinou a dupla foi naturalmente… nunca tínhamos pensado, tudo isso se deu aqui no Brasil mesmo. Há muitas diferenças, somos gêmeos, mas não iguais! Cada um tem a sua visão e vamos aprendendo coisas novas um com o outro. (Nana Kakra)
“Influências musicais Michael Jackson e Kanye West para nós dois, como pessoas e músicos”, revelam.
A parceria que vem desde a barriga, atravessou o oceano e nasceu novamente no Brasil. Que essa sintonia entre os irmãos ganhe cada vez mais frequência nas rádios do país.