“É Heavy Baile nessa porra” 150 anos ao som de 150 BPM
O Metropolitan Museum of Art está comemorando 150 anos. O grupo Heavy Baile quis celebrar levando funk e passinho para os corredores do museu
O coletivo multimídia de funk carioca Heavy Baile acaba de lançar a obra “Noturno 150”, podemos chamar de obra já que antes de ser exposta no Youtube, entre outras plataformas musicais, seu primeiro paradeiro foi o Metropolitam Museum of Art.
Foi pela Heavy Baile Sounds, com parceria da Altafonte e Waxplotation Records (internacional) que o lançamento chegou na internet.
Com um corpo que dança, representa e ocupa, Ronald Sheick, o bailarino, apresenta em seu passeio virtual o terceiro museu mais visitado do mundo, o MET, fundado em 1870, localizado em Nova York.
E é lá que o funk 150 BPM foi chacoalhar as pinturas, esculturas e acabou remexendo a gente que assistiu a um bailarino preto e carioca se exibindo em meio a diversos obras artísticas americanas e europeias, evidenciando o como os olhos dos colonizadores estão realmente voltados para um padrão de embranquecimento, vistos nos personagens ilustrados em sus obras.
Heavy Baile, “Fala baixo, meu filho!”
O som de Heavy Baile já possui identidade, CPF e título… Super caracterizado por sua mistura de funk com eletrônico, onde às vezes um instrumental de outro gênero pinta e borda nas produções. Essas misturas já geraram vários feats de sucesso como “Grelinho de Diamante” com Baby Perigosa, “Cavalgada” com Luisa Sonsa, entre outros sons com o grupo Tropikilazz.
No museu, Ronald Sheick não economizou o corpo para esse novo som e usou de capoeira, samba, frevo e danças afros para embelezar as pinturas pelas quais passou. O espaço abriga mais de 2 milhões de obras artísticas, dentre elas clássicas do Antigo Egito, pinturas/esculturas europeias e americanas, também dispõe de galerias de arte africana, asiática, oceânica, bizantina e islâmica.
Vale pontuar que o Metropolitan Museum of Art possui coleções de enciclopédias em instrumentos musicais, figurinos e acessórios, além de armas e armaduras antigas de todo o mundo.
E um dos artistas, cujo sua obra é voltada para dança e música, é Edgar Degas, conhecido por ser o “pintor de bailarinas” e, em uma das suas obras impressionistas, ele teve a honra de ter agregado a sua tela – óleo sobre painel – a presença do bailarino mandando o passinho brasileiro.
Quando a arte imita a vida…
Acompanhado de um charuto, em um cenário sóbrio e de luz baixa, dentro do seu isolamento social, é que o bailarino inicia a sua aventura virtual que foi o que restou para quem quer conhecer algo nesse período de pandemia.
Em meio há tantas obras, certamente, não deve ter sido fácil escolher quais seriam ideais para usar de cenário no clipe, mas o que vimos foi o bailarino se encaixar perfeitamente nas paisagens, às vezes acompanhado de outros personagens ou então sozinho. Tudo isso em meio a natureza pintada por pinceis que, agora, também possuem o rabisco dos passinhos do funk 150 BPM.
Com a direção de Daniel Venosa, direção artística de Paola Garcia e produção da Cosmo Cine, o clipe traz na memória uma pintura que é sempre pauta nas discussões raciais. A óleo sobre tela “A Redenção de Cam”, 1895 de Modesto Brocos. Essa está aqui no Brasil, no Museu Nacional de Belas Artes.
Essa obra aborda o tema da miscigenação e de como foi reforçado culturalmente para o povo brasileiro, vários discursos racistas elencando embranquecimento como salvação da nação ou purificação do indivíduo.
Ainda bem que isso vem mudando bastante na mente das pessoas pretas e também das brancas. Como diz o rapper Rincon Sapiência em Ponta de Lança:
“Crespos estão se armando, faço questão de botar no meu texto que pretas e pretos estão se amando”
Vemos quadros que contam difíceis histórias do passado e novos clipes que mostram posturas mais leves que o futuro pode nos presentear com muita dança. Então vamos apreciar “Noturno 150” de Heavy Baile, comemorar os 150 anos de história do MET e torcer para que os passos de Ronald Sheik e o beat 150 BPM do funk continue sendo e incrementando a arte.
