Cultura de Rua

Documentário Trap de Cria retrata a importância dos Mc’s para a periferia

A produção 'Trap de Cria' está sensacional e traz as vivências dos trappers nas comunidades de onde são crias

A Soudcrime em parceria com a Aspa TV lançou no último dia 23 de julho o documentário Trap de Cria. A obra é sem sombra de dúvidas uma produção única no cenário do rap nacional.

Gravado nas favelas do Rio de Janeiro e dirigido por Diego Esteves, o documentário traz as vivências dos mcs que estão estourando no trap brasileiro. Cinquenta, DaBabi, Gxlden, Lis Mc, e Meno Tody foram entrevistados numa sequência de diálogos que mostram a realidade dos crias nas comunidades do Rio.

Numa série de takes intercalados com o depoimento dos mcs, o documentário traz denúncias ao poder  público e ao descaso com as favelas.  Em um trecho o rapper Cinquenta mostra as paisagens do Fundão, comunidade de onde é cria, e comenta sobre o esgoto a céu aberto que convive desde pequeno, uma clara denúncia ao sistema político. Assim como ele, todos os mcs presentes no doc contam os traumas de um morador de favela.

Cinquenta também desabafa sobre os artistas que vão até a favela para gravar clipe, entretanto depois vão embora como se nada tivesse acontecido. “Os cara tão pensando que isso aqui é hollywood? Hollywood é o car#*lho!”, ressalta com revolta o jovem rapper que emplacou o hit GLXCK no ano passado e vem se destacando em suas produções ao lado do talentoso beatmaker e DJ ChrisBeats.

Trap de Cria mostra como é não ter opções na caminhada

Em diversos pontos do doc. fica clara a intenção de levantar a moral do favelado, e mostrar que quem vem de lá também pode sonhar. Meno Tody, outro que se destacou com hits no cenário do trap nacional, afirma que tem muita gente falsa querendo se passar por ‘real trapper’. Meno T também se popularizou na cena por atacar outros rappers e defender a bandeira do trap real, de vivências. 

“Eu quero mostrar como é não ter opções, tá ligado?” comenta a Lis Mc, que no documentário contou sobre as dificuldades na vida artística e os desafios de sair da vida no crime. Superando os obstáculos e todos que desacreditaram, a rapper carioca contou que tem muita coisa boa vindo por aí, sons, clipes, os projetos não param.

Outro ponto essencial na conversa com a mc foi o momento em que ela comenta sobre a desigualdade social e  herança histórica escravocrata recente. Que segue até os dias de hoje vitimando e exterminando a população negra.

Documentário já ultrapassa a marca das 100 mil views

DaBabi, mc da zona norte do Rio Janeiro, trouxe o discurso da necessidade de ter quem te apoie na sua carreira. O rapper, que tem se destacado com uma nova estética ao trap carioca e um timbre diferenciado, ressaltou a importância dos parceiros de verdade na sua carreira.  Nos takes do documentário ele faz questão de apontar todos os irmãos que ajudaram no início de sua caminhada no trap. Eles também são atores nos clipes do DaBabi que mostram, em grande parte, celebrações e conquistas de mais um jovem preto favelado. Dessa forma podemos dizer que é a reafirmação das batalhas em busca de um futuro melhor. 

Gxlden, por sua vez, conhecido pelo refrão “aquela fé né”, traz suas principais referências para ele ter se tornado o artista que é hoje. Mesmo no trap, ele valoriza todas as vertentes presentes na favela, principalmente o funk das antigas. O trapper também fala sobre suas vivências e a importância de ressignificar o trap para o Brasil. “Ninguém aqui entende o que os caras falam na música”, comenta sobre os sons gringos. Com o objetivo de inspirar as novas gerações para produzir arte, Gxlden destaca que suas músicas falam do que é vivido no Brasil, na favela, com originalidade. 

O documentário aborda em sua narrativa a visão de quebrada

Toda a narrativa por trás do documentário gira em torno da valorização e resinificação das favelas e do povo que vive nela. Óbvio que existem problemas graves nessas comunidades, grande parte por conta da carência do mínimo e da ausência do poder público nessas localidades. O favelado é mais que o estereótipo levantado pela mídia, como aconteceu na última semana, em que uma emissora de tv denunciou artistas que estavam gravando um clipe e os chamaram de traficantes.

O músico, o morador da periferia, da favela, quer apenas conquistar seu espaço, mas como percebemos, o sistema não está preparado para isso.   

Portanto, assista abaixo o documentário TRAP DE CRIA:

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Uesley Durães

Nordestino periférico apaixonado pela cultura Hip Hop e jornalista. Duas décadas tentando dar o meu melhor nas minhas piores fases.

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